Ernani Mendes |
De 2010 a maio deste ano foram notificados 29.945 casos de doenças diarreicas na regional Patos, que compreende 24 municípios. Patos, Teixeira e Santa Luzia são responsáveis, com 26.508, pelo maior número dos casos que alimentam o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica – Doenças Diarreicas Agudas- do Ministério da Saúde.
A forte estiagem dos últimos anos, situação que tende se agravar nos próximos meses, tem dificultado maior controle sobre as águas consumidas pela população, especialmente das localidades mais afetadas. O colapso no abastecimento d’água potável em vários municípios sertanejos, a exemplo de Desterro, Cacimbas, Teixeira, dentre outros, aumenta a preocupação dos órgãos de saúde, especialmente por não terem conhecimento da qualidade da água consumida. Na Paraíba 197 municípios vivem em situação de emergência devido os problemas decorrentes da seca.
O consumo de água sem a devida comprovação de sua qualidade, pode levar desde uma simples diarreia a um surto de hepatite A. Essa é a conclusão do agente de saúde pública da Funasa, Ernani Mendes da Cruz, ao analisar a situação dos 24 municípios que compõem a regional Patos-PB. Muitas doenças podem ser associadas ao consumo ou uso de águas não tratadas, como diarreia infecciosa, leptospirose, cólera e esquistossomose. Por isso a importância do monitoramento das águas que chegam às residências, o seu devido tratamento, seja com hipoclorito de sódio, filtragem e fervura para matar as bactérias.
Ele expôs, com muita preocupação, a ausência de vigilância por parte dos municípios, da água consumida por seus habitantes, seja através da entidade responsável pelo abastecimento, como também o monitoramento do sistema coletivo ou individual. De 2010 a 2014 os municípios teriam que ter enviado 15.252 amostras de água para o Laboratório de Vigilância Sanitária de Patos para exames físico-químicos e bacteriológico, porém foram entregues somente 2.509. Em 2014, em pleno período de forte estiagem, foram feitas apenas 88 coletas de água para exame, quando deveriam ter sido 2.304, ou seja, apenas 3,8% da meta estabelecida no pacto dos indicadores dos municípios com o Ministério da Saúde.
Água de torneira, carro-pipa, cacimba, açude, poço, de toda origem precisa ser analisada antes de ser consumida, pelo constante risco de doenças diarreicas que podem levar a surtos, como da hepatite A. Mesmo com vários treinamentos realizados pela Secretaria de Saúde do Estado, os municípios não estão cumprindo a pactuação e podem ser penalizados, tendo inclusive que responder suas falhas perante o Ministério Público.
É o que garante o gerente regional de saúde, José Leudo Farias, preocupado com o descaso na vigilância e monitoramento das águas consumidas pela população. Ele alerta para a necessidade dos municípios, através de suas vigilâncias sanitárias, vigilantes ambientais, fazerem o acompanhamento mensal de seus planos de amostragem, com visitas e coletas de águas, corrigindo as devidas falhas, alimentando com todas as informações o Siságua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, que dá parâmetros da situação do que é consumido pela população, servindo para o planejamento das ações públicas a serem desenvolvidas no programa Vigiágua.
Só para se ter noção do quanto a situação de saúde pública é grave no tocante a ingestão de água pela população, dos 24 municípios da regional Patos 18 não apresentaram uma amostra sequer de água no ano passado. As amostras devem ser do sistema público de abastecimento (Cagepa), de águas de superfície, como rios, açudes, lagos e de águas subterrâneas, poços, nascentes.
Foto:diarionordeste |
O coordenador da Vigilância Sanitária Municipal de Patos, Petrônio Gouveia, explicou que muitos municípios reclamaram de não remeterem suas amostras de águas pelo fato do laboratório municipal não ter recebido o kit colilert em 2014 do Governo do Estado. O colilert é um reagente utilizado para realizar os ensaios das amostras de água remetidas pelos municípios. Uma das informações possíveis pelo uso do reagente é a presença de coliformes fecais na amostra. O kit custa, segundo Petrônio, algo em torno de R$ 8,00. Desde outubro do ano passado que o estoque do reagente foi regularizado. O Laboratório de Patos é referência para todos os municípios da regional, além de Princesa Isabel, tendo condições de realizar dezenas de exames diários.
Marcos Eugênio
Marcos Eugênio
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