“Sei não, triste dos velhos. Esse povo novo não dá mais atenção às pessoas idosas. Não quer mais saber da gente. Só vive no celular. Sei não, seu padre”.
Celular moderno, avançado, portando diversos aplicativos altamente sofisticados. Eis o aparelho que faz companhia, dia e noite, às crianças e aos jovens. Todos o conduzem com o máximo de cuidado. Tornou-se um “companheiro” especial, inseparável. Ninguém desgruda do tal aparelho, mesmo nas horas tão essenciais da vida.
Invenção tão importante, tão necessária, mas, ao mesmo tempo, tornou-se sinônimo de crueldade, desumanidade. Por quê? Porque tomou o lugar do contato humano, da reciprocidade humana. O outro não importa, não conta. O que prevalece é o meu olhar obcecado, atento, para a telinha do meu celular ultramoderno. Que ninguém me atrapalhe, incomode.
Quem vem sofrendo com as consequências dessa invenção tecnológica é a pessoa idosa, pelo fato de estar sendo relegada ao esquecimento, à indiferença, ao isolamento à insensibilidade. A geração nova parece dar mais atenção ao aparelho, que só falta falar, do que aos idosos, no caso, seus pais, avós, tios etc.
Vejam o que ouvi e continuo ouvindo de tantas pessoas idosas sobre os jovens- filhos, netos, sobrinhos, vizinho etc.- e o celular. São palavras fortes, carregadas de sentimento de indignação, de tristeza, de rejeição e solidão. Muitos falam com a voz embargada e os olhos lacrimejados:
-Padre Djacy, quando os meus netos chegam na minha casa, eles não querem saber da gente, cada um se senta na poltrona e se entrega ao celular a gente fica sobrando.
-Sei não, triste dos velhos. Esse povo novo não dá mais atenção a gente. Não quer mais saber da gente. Sei não.
-Nossos netos agora só vivem olhando pra o celular, eles não conversam com a gente, nem olham pra gente.
-Padre, nossos netos trocaram a gente pelo celular. Eles não olham nem conversam com a gente.
-Para essa gente nova, velhos não valem mais nada. Esse povo novo não para pra conversar com a gente, só vive grudado no celular.
-De primeiro, as pessoas novas gostavam de conversar com os mais velhos, gostavam de ouvir as nossas estórias. Hoje, as coisas mudaram muito. Esse povo novo não quer conversa com a gente. Tudo mudou. A gente velha fica sozinha, ninguém nos dá atenção. Agora piorou com o tal de celular. Sei não, hein?
-Antigamente, no final de semana a minha casa ficava cheia de gente. Eram filhos, netos, noras, genros, sobrinhos. Era tanta brincadeira, conversas. Todos conversavam, riam, hoje, a coisa é outra. A casa continua cheia de gente, mas cada um no seu mundo olhando seu celular. Ninguém perde um minuto com o celular.
-Padre Djacy, tenho um tal de zap zap que tira atenção das pessoas mais novas. Essa gente deixa de conversar com a gente para conversar com esse tal de zap zap. Triste de quem é idoso. Adeus tempo bom, tempo onde os velhos eram ouvidos.
-O negócio tá feio mesmo. Tem um tal de api api que virou moda aqui em casa. Meus filhos não conversam mais com a gente, só vive nessa molesta de api api. Esse bicho não deixa mais ninguém dormir, toda hora é apitando feito o diabo.
-Tem hora que eu grito: meu filho, solta esse diabo de celular e vem conversar comigo, me dê atenção, pelo amor de Deus. Aí responde: já vou, deixe eu ver primeiro esse negócio. E eu fico sempre em segundo ou terceiro lugar. Dá vontade mesmo é de chorar, de morrer.
-Esses jovens de hoje não mais saber dos velhos. Pobres dos velhos. A gente vive entregue à solidão. E agora com esse tal de celular a coisa piorou ainda mais. Ninguém nos dá atenção.
-Seu padre, nunca vi uma geração tão insensível, tão fria com esta. Esses jovens não conversam com quem é velho. Tenho vários netos, mas tá pensando que eles conversam comigo ou a avó? Que nada! Quando vêm aqui, em vez de conversar com a gente, ficam é com o celular na mão, vendo isso, vendo aquilo. Até pra almoçar é preciso chamar.
-Pra não ficar sozinho, abandonado, sem ter ninguém pra conversar, já que os meus netos so querem saber de celular, eu resolvi comprar um celular pra mexer. Estou aprendendo a usar esse aparelho. Se a gente se entregar, é pior. Netos não querem saber de fazer companhia a gente não.
-Esse povo de hoje não quer mais perder tempo com os mais velhos. Para essa mocidade, o que importa é passar o dia todo vendo as coisas do celular.
-Padre Djacy, aqui na minha casa, quando os meus netos chegam eles se sentam na poltrona e passa o tempo todo mexendo o diabo do celular. Eles não pedem nem mais a benção.
-Antigamente, os netos se preocupavam com o avô, com avó. Eles perguntavam se estava bem de saúde. Hoje, padre, eles não querem saber se a gente está doente ou não. O negócio deles é com o celular. Não sei que diabo tem dentro desse bicho.
-Trocaram as pessoas idosas pelo celular. Na rua, a gente passa e dá um bom dia, uma boa noite, e a turma jovem nem responde, nem olha, porque está olhando o seu celular. Eles nem levantam a cabeça pra olhar quem é. As coisas mudaram muito. No passado, os jovens davam muita atenção a quem tinha idade avançada. Meu Deus!
-Com esse povo novo grudado nesse negócio de celular, quem é velho pode estar morrendo de dores, seja lá o que for, eles não estão nem aí. Se a gente chama, responde: pera aí, vou daqui a pouco. E quando vem socorrer a quem pede socorro, ainda grita: o senhor não tem paciência? Não sabe esperar?
-Sentei na calçada do vizinho, e lá tinham cinco jovens e dois anciãos. Imagine, seu padre, ninguém conversava com nós dois. Todos os cincos estavam grudados no tal do vap,vap, sei lá o que era isso. A minha só não fiquei só porque tinha o meu amigo vizinho, que é da minha idade.
-Eita mundo estranho. Até em velório ninguém mais reza, canta ou conversa. É todo mundo no celular. Coitado do defunto!
-O idoso pode está morrendo de dor, se acabando numa cama, mas o neto ou neta não larga o celular. Ainda manda a gente se calar pra não atrapalhar a conversa no zap,zap.
-Triste dos pais velhos que têm filhos e netos que não estão nem aí pra eles por causa de celular. Agora, quando morrem, fica todo mundo chorando. Não é verdade? Eu não estou certo falando isso?
-Triste de quem fica velho no mundo de hoje. É tanto desprezo, tanta ingratidão, tanta frieza. Os jovens de hoje não querem saber de quem fica velho. Quanta solidão na nossa vida. E agora piorou com o tal do celular, da internet, e do tal zap,zap.
-Tantos filhos, tantos netos, tantos sobrinhos, tantos parentes, mas vivemos sozinhos, sem ninguém. A solidão é a nossa companhia. Essa gente nova não se importa com os mais velhos. A vida desse povo novo é somente para o celular. A gente perdeu para esse pequeno aparelhinho. Ele roubou o que mais precioso a gente achava: a companhia.
Eis a nova realidade enfrentada pelas pessoas da terceira idade. Nada contra o celular, até porque o aparelho não tem culpa. O grande problema é que trocaram o contato humano pelo o uso neurótico do referido aparelho.
Para os filhos cristãos- crianças, jovens, adultos- que não desgrudam do celular, recomendaria alguns versículos bíblicos que falam sobre a importância da pessoa idosa. Lendo-os, meditando-os, possam tomar consciência de que toda pessoa da terceira idade, seja ela quem for, merece ser tratada com muito amor, respeito, atenção e consideração:
"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor “(Levítico 19:32).
"Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá” (Êxodo 20:12) .
“ouça o seu pai, que o gerou; não despreze sua mãe quando ela envelhecer” (Provérbio 23:22).
"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor”( Levítico 19:32).
“Agora que estou velho, de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus, para que eu possa falar da tua força aos nossos filhos, e do teu poder às futuras gerações” (Salmo 71:18).
“Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (1 Pedro 5:5).
"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor” (Levítico 19: 32).
“A beleza dos jovens está na sua força; a glória dos idosos, nos seus cabelos brancos” (Provérbio 20:29).
“Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai” (1 Timóteo 5:1)
“Quando, ao me verem, os jovens saíam do caminho, e os idosos ficavam em pé” (Jó 29:8).
Padre Djacy Brasileiro, em 04 de junho de 2015.
E-mail: padredjacy@hotmail.com
Twitter: @Padredjacy
OBSERVAÇÃO: as fotos foram tiradas da internet.
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