Iara da Silva Machado
O amor supõe trabalho e arte. É verdade que nascemos
com imensas potencialidades de amar, mas também somos herdeiros de distorções
culturais poderosas, que dificultam a gratificante experiência do amor. Por
isso, o amor exige trabalho sobre nós mesmos e, não raro, contra nós mesmos.
Até transformar as pessoas para viverem o amor como a arte de um relacionamento
o mais inclusivo possível.
O amor é a relação básica do ser humano. Somente por
ele se expande o sistema da vida e se alarga a percepção do sentido da
totalidade. Os maiores inimigos do amor são o medo e a indiferença. O medo
estiola a pulsação vital e transforma o amor em angústia. A indiferença supõe a
morte do amor. As pessoas antes amadas, na indiferença, perdem significação; o
fascínio por elas empalidece, o imaginário se esvazia e o desejo se apaga.
A arte do cultivo do amoroso supõe ternura,
percepção do detalhe e valorização do universo simbólico. Sem símbolos de
afeição não há encontro de amor; há a reunião em nome de interesses e, no
máximo, a amizade que nos garante o sentimento de pertença e nos ajuda a
enfrentar a solidão. Mas o amor é outra coisa: é a transfiguração do pequeno, é
a inauguração da eternidade já dentro do histórico e originário da existência
humana.
Mas o amor não possui somente essas significações
mais transcendentes. Ele se Sá nas dobras da vida, na sexualidade, na paixão,
no cuidado, no trabalho, nas crises de encontro, no aprendizado mútuo, na
acolhida das diferenças, amiúde, tão desafiante, nos fracassos de uma das
partes.
A autenticidade do amor se mede na capacidade de
sustentar a relação para além da satisfação imediata, no entendimento de que
todo amor humano se realiza dentro de um encontro, de uma história de encontro,
até fundir as vidas numa única direção, numa interpenetração de desejos, de
sentimentos e de destino.
O amor é criativo; é a maior afirmação da vida; por
isso, o amor irradia alegria fontal. O amor está próximo da poesia, criação
mais excelente da criatura.
Por fim, o amor constitui a realidade axial da vida,
a ponto de ser a própria definição da divindade. Não podemos pensar nem desejar
Deus senão no prolongamento da experiência do amor. “Deus é amor, e quem
permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (João, Cap. IV, v. 16). A
medida da fidelidade a Deus se encontra na fidelidade ao amor. Quem tem amor
tem tudo: a terra, a paz, o coração e o próprio Deus.
Fonte: Leonardo Boff, Prefácio do livro Amar pode
dar certo. Roberto Shinyashiki & Eliana Bittencourt Dumêt. Editora Gente.
PARA: O SITE PBNOTICIAS
SETEMBRO/2012
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