Chico Marciano era rapazote no sitio Mendonça, zona rural de Juazeirinho. A propriedade de seus pais margeava a BR 230.
Próximo à estrada havia um barreiro, e em tempos de Julho enchia e transbordava com facilidade, era a reserva d’agua que tinha quando o sol se zangava com os caririzeiros. Estudante era fascinado por assuntos ufológicos.
- Priscila mermo, minha namorada num acredita qui inzista disco avoadô.
E Priscila nem acreditava e nem aguentava mais ouvir Chico falar em seres extraterrestres, em tropas estrelares, em naves espaciais, Nasa e em objetos voadores não identificados:
- Óvi... O quê Chiquin?
- Ovíni.
- Homi se inteire das lavôra de feijão qui as ramas tao tudin se ispaiano, ói Chico, arriba da cabeça do homi, só Deus!
Era raro não ter uma confusão toda vez que ele ia a sua casa, duas léguas e meia de onde morava.
- Apôi Priscila, quaiqué dia eu dismonto tua discrença! Tu vai vê.
E todo dia, por volta das 9 da noite, no silencio do roçado, ele saia de sua casa e ia até um morro próximo e ficava algum tempo, sentado de olhar perdido no céu negro e vez e quando, jogava o olhar para o horizonte... Nada.
Então, quase chegando a Agosto, já à noitinha, uma névoa cobriu Juazeirinho e um pedaço da Barra, mesmo fazendo um frio da gota, Chico saiu em horário costumeiro e foi até o morro. A névoa era muito forte, quase não se enxergava além do nariz, foi quando ele viu, ao longe, muito longe, luzes amarelas e vermelhas piscando...
- Vixe Maria!
Arrepiou-se. Queria uma testemunha que não fossem seus olhos. Não tinha. Os vagalumes não certificariam a visita que estava recebendo.
- Eita gota! São os caba! Eles viéru mermo. É um disco avuadô!
E fazia o sinal da cruz, e tentava parar a tremedeira.
- Vô lá. E eles tão bem pertin do barrêro...Deve de tá cum sede ou butano agua no radiadô...
Caminhou alguns passos e as luzes piscando, a visão ainda prejudicada pela névoa, de repente se joga no chão e sai rastejando pelo meio da caatinga molhada de orvalho, e mil pensamentos povoam sua cabeça, e ria porque ia contar pra Priscila que tinha recebido a visita de habitantes de outros planetas, mas como ele ia fazer as honras ?
- Peraí, num to levano nada, nem uma camisa do Guarani de Juazeirin pra dá a de agrado ?
E ia rastejando até que parou perto de uma moita, as luzes amarelas e vermelhas eram mais visíveis... Resolveu se apresentar, ficou de joelhos e botando as duas mãos em forma de cone, gritou:
- Aqui, Chico Avuadô, de Juazeirin, fazeno contato!
Nada.
Esperou mais alguns segundos e falou mais forte, agora já esticando o pescoço:
- Aqui Chico Avuadô, de Juazeirin, amigo de Fernando do cinema, votei em Zé Neto Rangel pra vereadô, fazeno contato!
Só o eco de sua voz era escutado. Ficou em pé e falou mais alto.
- Aqui Franisco Avuadô, de Juazeirin, Paraiba,Brasí, criadô de mocó e amigo dos impussive e de Zé Martins, fazeno contato...
A última palavra em forma de grito...
De repente ele escuta lá das bandas do barreiro o retorno...
- Aqui, Antôin Jirimia, motorista da Itapemirin... Homi deix’eu obrá in paz...
Foi o fim do contato imediato que Chico tentou fazer.
Efigênio Moura (contato@efigeniomoura.com.br)
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