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quarta-feira, 8 de junho de 2011

AUTOESTIMA: UMA LEITURA SAUDÁVEL PARA COMEÇAR BEM O SEU DIA!

AMANDA: UM DISCURSO PLÁCIDO E RETUMBANTE

Inácio A. Torres

 Você sabe quem é Amanda Gurgel? Coloque a cabeça para pensar e tente lembrar de alguém com este nome, seja uma artista, uma professora, uma atriz, uma política, uma enfermeira, uma advogada etc. Não lembra! não tem problema. De certeza, até bem pouco tempo Amanda era uma desconhecida dentre tantos brasileiros e brasileiras, insurgindo somente agora pela aparição numa audiência pública com o tema “O Cenário atual da educação no RN”, realizada em Natal, tendo com participantes a Secretária de Educação Betânia Ramalho, deputados,  professores e a comunidade. Esse seu aparecimento midiático repentino veio em boa hora e graças ao apoio imparcial,  sensacionalista - mas na medida exata - e justo do rádio, jornal, televisão e sobretudo da internet.

Para os que não sabem, Amanda Gurgel é uma professora de português da rede estadual de ensino do RN, sindicalista (tendo participado duas vezes de chapas sindicais que não obtiveram sucesso nas eleições do RN), solteira, órfã desde os quatro anos de idade, tendo sido criada por tios da Bahia. É uma oradora eloqüente, de linguagem fluente com colocação das palavras na medida e no momento exatos. Seu estilo de falar e biografia identificam-se, mesclam-se, com os de Marina Silva e Heloise Helena.

Para se ter uma ideia da força da palavra dessa jovem professora, o vídeo com o seu discurso foi colocado na internet e imediatamente chamou a atenção de brasileiros e brasileiras espalhados pelo pais e dos residentes no estrangeiro. Foram mais de 1 milhão de acessos só nos três primeiros dias. O sucesso foi tanto que ganhou até mesmo perfis falsos no face book e twiter. De seu breve e interessante discurso, extraímos algumas reflexões que a seguir abaixo comentamos.

Sobre o salário. Para anunciar o seu, R$930,00, Amanda fez antes algumas observações sobre dados estatísticos apresentados em falas de oradores anteriores. Na verdade, a maioria dos gestores brasileiros aprecia apresentar dados para falar sobre os indicadores do seu setor. Amanda foi direto ao assunto e bem mais clara quando disse: “no Brasil, os gestores municipais, estaduais e federais nunca consideraram a educação como uma prioridade”. Essa é uma pura e antiga verdade. Uma verdade que não precisa de números para comprová-la, pois os indicadores educacionais da oficialidade e apresentação dos prédios já comprovam essa lamentável situação. 

Numa descrição sem algarismo, reportou-se ao sucateamento do ensino: não se pode banalizar a situação precária em que se encontram as escolas. “Salas de aula superlotadas, alunos conduzindo carteira na cabeça de uma sala para outra, fiscalização sistemática da merenda escolar e punição cerrada ao professor que comer do cuscuz”. Nesse caso, - explicou - tipifica-se como “desvio de merenda, podendo o professor ser punido pelo ministério público”.

 Que horror! E quanta contradição?! Na época do tão decantado Programa de Aceleração do Crescimento/PAC, quando supõe-se que as coisas movam-se com velocidade,  conforme Amanda, a Secretária de Estado da Educação do RN, caminha pela contra-mão, em passo lento, pois pede insistentemente que os professores tenham paciência, pensem a longo prazo; um chavão surrado, um clichê repetido por gestores que não têm força tampouco autonomia política e, menos ainda, poder de escolha ou de decisão. Por isso, Amanda tem razão de sobra em seu argumento: “os professores não podem esperar mais, pois têm necessidade de se alimentar, de pagar moradia, transporte, escola para os filhos”.

O discurso de Amanda - coloco todo o crédito nele - embora verdadeiro, realista e honesto, não deixa de ter uma pitada do tempero “sindicalez”, ou um ranço mesmo, quase sempre recheado de sentenças muito batidas pelo uso por parte de pelegos e por isso mesmo ineficaz na mobilização dos trabalhadores da educação, sobretudo os mais antigos vencidos pelo tempo, cansaço e descrença na política partidária e de educação do país. Por outra lado, sabemos não ser fácil construir metodologias motivadoras para superação desse imobilismo desenfreado que, lamentavelmente, contagiou a maioria das representações dos trabalhadores brasileiros. 

A profissão de professor, embora tenha alta relevância social, não recebe o reconhecimento merecido no Brasil, isso é fato notório. Pior ainda. Pensar que mudaremos esse quadro apenas com discurso político é ledo engano. O caminho é o discurso pedagógico junto ao povo, educação para todos, campanhas sistemáticas para promover a educação como fazemos para combater a gripe, os cânceres humanos, a dengue, e outras patologias. Conclamar sistematicamente (e não apenas em tempo de paralisação) pais, alunos, a população e os políticos para mostrar e debater o quadro da educação atual. Enfim, ser educacionista como diz Cristovão Buarque.

Para Amanda, ter professor em sala de aula é uma informação equivocada de educação, que deve ser esquecida, afastada. Na verdade educar é muito mais que isso, mas não podemos esquecer que o professor é o ator principal da educação, portanto reforce-se e realce-se que, em favor dele ou dela, seja dada toda a atenção, salário digno, respeito, segurança, meios operacionais adequados e capacitação, pois só assim permanecerá como um educacionista (revolucionário da educação) dentro e fora da sala de aula.

Embora tenha uma atuação marcante na educação do RN, seja líder e querida como o próprio nome isso já traduz (Amanda, latim, digna de ser amada); dizendo-se conhecer a realidade da sala de aula melhor que estudiosos da educação – creio que ela referia-se aos teóricos, – é bom lembrar que os saberes (aprender, fazer, conviver e ser) devem caminhar juntos. Amanda desempenhou bem o seu papel como professora e cidadã durante essa audiência. 

O seu discurso comoveu milhares de brasileiros e brasileiras, preencheu importantes espaços na mídia, expressou o que muitos pais e colegas seus desejavam transmitir. Agora, é esperar que os governantes do RN, mesmo discordando de algumas opiniões por ela emitidas, sensibilizem-se e façam um esforço concentrado convocando gestores, sindicatos e professores, no sentido de encontrar uma solução para essa paralisação. Mais: que nos outros estados brasileiros apareçam nova Amandas.

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