Rede Marginal: PF prende pistoleiros no Sertão paraibano

Criminosos detidos participavam de crimes de pistolagem, assaltos, tráfico de armas e drogas.

Uma mega operação coordenada pela Delegacia de Polícia Federal de Patos, com apoio da Polícia Rodoviária Federal, COT – Comando de Operações Táticas da PF do distrito Federal e PM da Paraíba, conseguiu prender na manhã de hoje 25 pessoas envolvidas com o tráfico de armas, de drogas, assaltos e pistolagem. Cerca de 90% dos detidos foram presos em São Bento, a cidade das redes de dormir, por isso a denominação de Rede Marginal, onde a maioria dos envolvidos tem como atividade lícita o comércio desse produto. A Polícia tinha em suas mãos 26 mandados de prisão e 34 de busca e apreensão. Os mandados foram cumpridos em São Bento, Catolé do Rocha, Pombal, Sousa, Patos e João Pessoa, além de Orós e Icó, ambas no Ceará e nas capitais Florianópolis-SC e São Paulo-SP. As investigações tiveram início em outubro de 2006 e o inquérito instaurado no mês seguinte. “Muitas pessoas ligaram para nossa delegacia pedindo nosso auxílio, principalmente para inibir o tráfico de drogas e o grande número de homicídios que vinha ocorrendo naquela época na área de São Bento”, disse o chefe da Delegacia da PF em Patos, Derly Brasileiro, acrescentando que a partir das informações preliminares, outros crimes passaram a ser investigados, como o de pistolagem, onde os mandantes encomendavam as mortes de dentro de presídios de João Pessoa e São Paulo. O monitoramente desses criminosos pela Polícia Federal, Rodoviária e PM de Catolé evitou a chacina de seis pessoas, que seriam exterminadas pelo pistoleiro Reginaldo Marcolino Soares, que responde pela alcunha de “Granpão” e mais quatro de São Bento, dentro de uma empresa daquela cidade há seis meses. “Segundo alguns desses detidos, essa chacina entraria para a história da Paraíba, um foto que ficaria marcado para sempre, mas graças a esse trabalho conjunto das polícias conseguimos evitar”, comentou Derly.

Tudo começou em São Bento e de lá a PF localizou envolvidos nesses crimes nos estados citados. Foram apreendidos na Rede Marginal dezenas de celulares, munição de diversos calibres, material para recarga de cartuchos, cerca de 10 armas de fogo, algumas de uso restrito e uma série de outros objetos, como motos e carros.
O grande destaque dessa operação, da qual participaram 206 policiais, sendo 46 da PRF, que usou seu helicóptero, foi a prisão em Orós-CE de “Grampão”, feita especialmente pelo COT – Comando de Operações Táticas, que veio de Brasília exclusivamente para efetuar essa prisão. Ele, que foi detido de arma na mão, pronto para reagir, é considerado um dos maiores pistoleiros da Região Nordeste, segundo Derly Brasileiro. No cerco policial Dentre suas ações criminosas está a tentativa de assalto aos Correios de Catolé do Rocha, no final de 2006, quando um soldado PM ficou gravemente ferido durante troca de tiros com ele.

A Polícia tinha em mãos um mandado de prisão contra ele solicitado pela Justiça Federal em Sousa. Grampão é acusado de vir com freqüência executar pessoas em Catolé do Rocha. Os homicídios, segundo informou o chefe da Delegacia Patos, aconteciam, tendo como motivos brigas de famílias, com destaque para os Suassuna e Oliveira, rixas entre os grupos de criminosos e por encomenda, aonde se chegava a pagar até cerca de 25 salários mínimos por uma execução.

Os presos que faziam as encomendas de dentro dos presídios de João Pessoa, um deles de sobrenome Suassuna, e de São Paulo, pagavam locação e compravam veículos que eram usados pelos assassinos que iam até Catolé do Rocha e São Bento para cumprir o trato.
Outro acusado de participar nos crimes citados pela Polícia preso na Operação Rede Marginal é Sinval Oliveira de Almeida, o Teté, filho de família tradicional de São Bento, inclusive dois motéis da família foram alvo de busca e apreensão. Um advogado presente à delegacia disse que a família de Teté possui grande parque de vaquejada naquela cidade. Muitos advogados e até um procurador do Rio Grande do Norte compareceram na Delegacia Federal para defender os acusados dos crimes supracitados. Familiares também vieram acompanhar de perto o desenrolar da operação.
Na cidade de Patos apenas um mandado de busca e apreensão na casa de um sargento da PM, Nataniel Lucena Franco, lotado no III Batalhão, que fazia recarga de cartuchos, inclusive sua máquina foi apreendida. Brasileiro explicou que há informações comprovadas que ele estaria para arranjar algumas armas para os criminosos de São Bento. Todos os acusados estão sendo transferidos para o Presídio Regional de Patos Romero Nóbrega, onde vão aguardar o desenrolar do inquérito. Uma das viaturas da PRF, quando trazia um detento, numa das curvas de Serra Negra saiu da pista e caiu num barranco. Os ocupantes tiveram pequenos ferimentos e foram atendidos por uma equipe do Samu de Patos.
Vários veículos, principalmente motos, foram apreendidos. O delegado Derly Brasileiro se disse preocupado com o uso desse transporte circulando irregular na Paraíba. Explicou que pesquisou as ocorrências policiais nos últimos meses e detectou que quase todos os homicídios tiveram uso de motos irregulares. “Está na hora das forças de segurança do Estado intensificar suas ações para evitar que esses veículos continuem trafegando livremente”, comentou. Apesar da bem sucedida operação, as investigações devem continuar no Sertão paraibano. Inclusive nessa nova etapa haverá a participação da Polícia Civil, que será bastante útil para se identificar autores de vários homicídios.
Relação dos acusados:
- Sinval Oliveira de Almeida (“Teté”) - Tiago Gomes da Silva - Alex Roberto Adonias Dantas (Robertinho) - Reginaldo Marcolino Soares (“Grampão”) - Divaldo Dantas de Araújo (Divaldo do lava-jato) - “Tetê” namorada de Tiago Gomes - Valdemir Ferreira dos Santos Filho (“Júnior do Lança”) - José Leonardo Costa Dias (“Braguinha”) - Glênio Suassuna Carneiro (“Gago Suassuna”) - Ronaldo da Silva Araújo (“Galego do gás”) - Marquinhos - Vadinho ou Dadinho - Rosélia Linhares de Azevedo (“Comadre Maria”) - Joaquim Marcolino Sousa Neto - Francisco Cezar Cavalcate (“Cezar”) - Manoel Viana (Icó-CE) - Círlio Torrado - Francisco de Assis Ferreira Cruz (“Baca”ou “Bigode”) - Pedro Alves Cabral (“Dão Cigano”) - “Delegado” - Alai Caíque Andrade da Silva (“Caíque”) - “Caicó” - “Chico Bola” - “Fô” ou Kleber - Francisco Helinton da Silva (“Pereira” ou “Leleco”) - Edivan Estrela de Araújo (“Baixinho” ou “Pato”). Entre os presos está Wilismar Ferreira Gentil, de Pombal, conhecido por “Baça”. No mandado de prisão seu nome aparece como Francisco de Assis Ferreira Cruz.

fotos:garimpandopalavras