Em carta aberta ao povo paraibano, divulgada na tarde desta quarta-feira, o deputado federal Ronaldo Cunha Lima (PSDB) explicou seu ato de renúncia, como “um ato de coerência por parte de quem sempre lutou contra os privilégios inerentes à imunidade parlamentar”. Evidenciando sua intenção de ser julgado por um júri popular, como um cidadão comum, Ronaldo registrou ainda sua aflição pessoal pelo episódio que envolveu o ex-governador Tarcísio Burity. "Serei julgado não por atos da função pública, mas por gestos de cidadão. Como mero cidadão é que terei de ser tratado", destaca o ex-governador. Ele lembra que, como senador, defendeu que a imunidade fosse aplicada apenas para fatos ligados exclusivamente ao exercício do mandato. Ronaldo, cujo julgamento está previsto para acontecer na segunda-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), pode adiar, com isso, a apreciação do caso. O pedido de renúncia deve ser lido ainda à tarde, durante a sessão.
Leia, na íntegra, a carta de renúncia de Ronaldo, entregue ao deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), que presidia a sessão plenária na Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira.
Senhor Presidente:
Venho, através desta, formalizar minha renúncia definitiva e irretratável ao mandato de Deputado Federal pelo Estado da Paraíba. Quero, com esse gesto extremo, despir-me de quaisquer prerrogativas para assumir, apenas como cidadão, episódios particularmente dolorosos de um passado já remoto no tempo, mas ainda muito presente em minha vida e minha consciência, por seus desdobramentos de sofrimento e de dor. Não é a primeira vez que, no enfrentamento desse episódio, abro mão de prerrogativas. Ainda no Senado, eu o pedi formalmente e de público a todos os meus pares, ao defender o que para mim é princípio fundamental: a imunidade parlamentar deve cingir-se exclusivamente a fatos ligados ao exercício do mandato. Pedia para ser processado e julgado. Queria enfrentar o Júri Popular, sem quaisquer imunidades. Serei julgado não por atos da função pública, mas por gestos de cidadão. Como mero cidadão é que terei de ser tratado. Por esses gestos já me penitenciei junto aos que fiz sofrer. Deus me permitiu receber do adversário de outras épocas o gesto de perdão, que nos permitiu estabelecer a paz entre dois corações e vencer as atribulações de duas histórias. A reconciliação muitas vezes desejada, sinceramente querida com toda a força de meu coração, e felizmente alcançada, não me tornou menos responsável por meus atos. O povo da Paraíba, em repetidas ocasiões, distinguiu, com clareza inequívoca, a dramaticidade de um gesto e a história de uma vida, entre o momento esparso e isolado de um minuto e a prática consolidada de uma existência. Mas até para me reconciliar comigo mesmo e com minha história devo enfrentar, diante de meu próprio povo, toda a dor dessa circunstância. À Paraíba, a que dediquei toda a minha vida, entrego meu destino. A Paraíba me julgará, soberanamente, através de seu Tribunal do Júri. Agradeço aos paraibanos a confiança de mais um mandato, do qual me despeço com a proclamação explícita de homenagem à Justiça e ao Tribunal do Júri Popular. Em todas as tribunas que a vida me permitir, continuarei entoando meu mais profundo respeito ao Parlamento brasileiro e a minha mais profunda convicção de que a imunidade parlamentar, com todos os seus desdobramentos, deve resguardar exclusivamente atos relativos ao exercício do mandato. Com os meus mais sinceros agradecimentos, e em sinal de coerência, Ronaldo Cunha Lima, agora apenas brasileiro com muita esperança. E paraibano, com muito orgulho.
Fonte: Assessoria de imprensa do PSDB
Fonte: Assessoria de imprensa do PSDB
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