Foi em tom de desabafo que o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso condenou o pedido de
impeachment feito por eleitores de Aécio Neves (PSDB) após sua derrota
no último domingo para Dilma Rousseff, reeleita presidente. Em artigo ao
jornal espanhol El País, ele admitiu que o resultado das urnas deve ser
respeitado, mas não poupou o PT, a quem condenou pelo baixo nível da
campanha, especialmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
chamado de "língua solta". Sobre Dilma, pediu "desconfiança" a seu
pedido de diálogo.
"Em uma democracia não cabe às oposições, como ao povo em
geral, senão aceitar o resultado das urnas. Mas nem por isso devemos
calar sobre o como se conseguiu vencer, nem sobre o porquê se perdeu." Foram
com essas palavras que Fernando Henrique abriu seu artigo. Para o
presidente, o "lulopetismo" transformou Marina Silva em "porta-bandeira
do capital financeiro” e Aécio em "playboy".
O tucano também mostrou-se indignado por ter sido tratado na campanha como o responsável
pela quebra do Brasil e dos bancos estatais Caixa Econômica Federal e
Banco do Brasil, em "um rosário de mentiras e distorções".
Em razão da suposta postura do PT, ele pediu desconfiança em
relação ao discurso da presidente reeleita, que conclamou diálogo com a
oposição para "unir o Brasil".
"Diante do apelo ao diálogo da candidata eleita devemos responder com
desconfiança: primeiro mostre que não será leniente com a corrupção.
Deixe que os mais poderosos e próximos (ministros, aliados ou grandes
líderes) respondam pelas acusações."
Mas suas principais críticas foram dirigidas a Lula que, de "língua
solta, diz o que quer quando lhe convém". O tucano responsabiliza o
petista pela invenção de uma "batalha dos pobres contra os ricos”. “Eu
não sabia que metade do eleitorado brasileiro, que votou em Aécio, é
composta por ricos..."
Fernando Henrique também reservou um pequeno parágrafo para
autocrítica. Ele disse que a oposição também errou, especialmente por
seu desenraizamento dos movimentos
sociais. "Quem está na oposição precisa bradar suas razões e persistir
na convicção, apontar os defeitos do adversário até que o eleitorado
aceite sua visão. Para isso precisa organizar-se melhor e enraizar-se
nos movimentos da sociedade."
IG
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