Em uma matéria extensa, de cinco páginas, a Bloomberg Businessweekapresenta o bispo brasileiro Edir Macedo: 68 anos,
dedos deformados, uma "coroa" escassa de cabelos brancos e mais de
cinco milhões de seguidores, "cujas doações nos últimos 36 anos o fizeram
um bilionário".
Macedo "se orgulha" de, atualmente, ter
congregações em cerca de 200 países e, diz a Bloomberg, está constantemente viajando entre eles com a
"frota de jatos particulares da igreja". Em sua biografia autorizada,
é descrito um modelo Dassault Falcon, que pode custar mais de US$ 20 milhões.
A revista afirma que, pelo ranking dos mais ricos do
mundo, a fortuna de Macedo é estimada em US$ 1,2 bilhão, "inteiramente por
conta de ser o dono do sistema de rádio e televisão Record". "O
conglomerado produz telenovelas (às vezes bíblicas), reality shows com infusão
de sexo e jornalismo que trata de crimes terríveis", diz a publicação, que
lembra que o conglomerado possui ainda um canal de TV a cabo de notícias,
"um punhado de emissoras de rádio", três jornais, uma empresa de
produção de cinema, "e até mesmo um pequeno banco, bem como unidades de
cabo e satélite espalhados por todo o mundo".
"No Brasil, onde nasceu e foi criado, ele é uma
grande figura nacional, objeto de dezenas de inquéritos criminais e dono da
Record, a segunda maior rede de TV do País." A Businessweek lembra que Macedo é conhecido pela forma como se auto
intitulou: "O Bispo".
Macedo fundou a Igreja Universal do Reino de Deus,
baseada na teologia da prosperidade, que relaciona fé ao sucesso financeiro,
segundo a publicação. "Ele prega duas vezes por semana, frequentemente em
duas cidades diferentes, e os sermões são assistidos com fervor nos sites das
igrejas, em sua página no Facebook, e nas mini televisões que os taxistas brasileiros
gostam de manter nos veículos", diz a revista.
A publicação afirma que Macedo de vez em quando
realiza eventos ao ar livre que atraem multidões, chegando a meio milhão de
pessoas. Em fevereiro, lembra a Businessweek, ele se dirigiu a cinco mil pessoas em Belo Horizonte (MG), quando
teria questionado à multidão: "qual é o maior país do mundo,
economicamente falando? É a 'América', os Estados Unidos. Você sabe por quê?
Porque, olhem para trás - vocês podem checar na internet - a colonização foi
feita por homens que acreditavam na palavra de Deus. E eles eram dizimistas. É
por isso que você vê na nota de dólar: 'Em Deus nós confiamos'."
Segundo a Businessweek aponta, a doutrina de Macedo envolve doações de 10% da
renda dos fiéis à igreja, como um "mandamento de Deus". A revista
ressalta que o dízimo nunca foi parte da tradição católica brasileira e, para
Macedo, isso explica muitos dos problemas do País. "Um homem de origens
humildes, Macedo ofereceu seu próprio sucesso como prova (religiosa)", diz
a revista. "Nossa cultura é retrógrada, uma cultura mesquinha, sem visão
de futuro", teria dito. "Só você pode mudar essa situação. O dízimo é
você no altar de Deus, assim como Jesus era o dízimo de Deus para a
humanidade."
A publicação afirma que para o promotor de Justiça de
São Paulo, Silvio Luís Martins de Oliveira, as promessas de enriquecimento de
Macedo são como fraudes. Em um caso de 2009, que acaba de ser iniciado o
julgamento, o promotor acusa o bispo e três membros de alto escalão da igreja
de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação de transferências
financeiras internacionais.
"Os pregadores fazem uso da fé, desespero ou da
ambição (dos seus seguidores) para vender a ideia de que Deus e Jesus Cristo
apenas olham para aqueles que contribuem financeiramente com a igreja",
teria escrito Oliveira em uma denúncia criminal. Em sua descrição, a Igreja
Universal enriquece os seus líderes muito mais do que seus fiéis.
"Macedo tem orgulho de seu sucesso, mas torna
perguntas sobre sua riqueza em questões espirituais. Ele declinou uma
entrevista pessoal e escreveu em um e-mail dizendo: 'Do ponto de vista da minha
fé em Jesus Cristo, sou o homem mais rico do mundo", afirma a Bloomberg Businessweek.
A publicação lembra que o pastor também tem uma
presença significante nos Estados Unidos, onde já reúne cerca de 60 mil
seguidores, a maioria deles composta imigrantes latinos. "A igreja é uma
anunciante regular no canal de língua espanhola, o Telemundo." Apenas em
Angola, Macedo reúne meio milhão de fiéis.
Compra da Record
A compra da Record por Macedo - então uma rede de televisão endividada - , custou US$ 45 milhões e foi realizada em 1989. Segundo a revista, essa transação levou a uma investigação por uma agência fiscal brasileira, que apontou que foram usados empréstimos sem taxas de juros da Igreja Universal para financiar a compra. Macedo teria sido multado por não haver declarado os empréstimos como renda. Em sua defesa, o bispo teria dito que comprou o registro da TV em nome da igreja para criar a primeira rede de televisão evangélica do País.
A Businessweek diz que o argumento não convenceu os fiscais, que
junto a promotores, moveram uma ação, em 1997, procurando retirar a licença do
grupo, alegando que a Constituição Brasileira proíbe instituições religiosas de
manter rádios ou emissoras de TV. No processo, diz a revista, Macedo passou a
afirmar que adquiriu a Record "para si mesmo". O caso se arrastou por
mais de dez anos até que a Justiça Federal decidiu-se favorável a Macedo em
2011.
De acordo com a revista, a Record arrecadou US$ 1,1
bilhão apenas em 2011, sendo que "boa parte" teria vindo da Igreja
Universal. "A igreja compra cerca de seis horas diárias da programação,
quase sempre após a meia noite, quando as propagandas são escassas",
afirma. "Durante as horas mais rentáveis da Record, a igreja comanda
sermões em outros canais."
A Businessweek afirma que Douglas Tavolaro, chefe de notícias da
Record, alega que o objetivo de Macedo é fazer da Record a rede número um do
Brasil, para quebrar com a dominância da Rede Globo, "que ele vê como uma
ferramenta da Igreja católica brasileira já estabelecida". Macedo, diz
Tavolaro, "crê que o Brasil sofreu por décadas por conta desse monopólio
midiático."
Segundo a revista, os pastores de alto escalão possuem
12 emissoras locais de TV, três dúzias de emissoras de rádio, e uma série de
empresas privadas que fornecem segurança às igrejas, serviços de contabilidade,
e até planos de saúde. "Em um relatório que faz parte do caso de 2009,
investigadores do Ministério da Fazenda constataram que, incluindo a Record,
estas empresas receberam cerca de US$ 1,9 bilhão da igreja de março de 2002 a
novembro de 2003", diz a revista.
A assessoria de
imprensa da igreja teria se recusado a comentar os negócios dos pastores,
"referindo-se de forma ampla sobre uma lista detalhada de questões,
incluindo pedidos para lançar luz sobre documentos públicos e o patrimônio
líquido de Macedo, como 'mentiras'". A assessoria disse à Businessweek que Macedo nunca arrecadou um salário ou um dividendo
da Record.
Terra
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