Foto arquivo: Marcos Eugênio |
Inácio A. Torres
Nos últimos anos o Conselho Federal de Medicina/CFM,
reconhecendo a precariedade do ensino médico brasileiro, tem se esforçado muito
no intento de reverter essa situação que pulverizou-se no país inteiro.
O próprio Dr. Adib Jatene, ex-ministro da saúde, preocupado
com a formação desses profissionais, atuando como supervisor na Comissão de
Especialistas da Secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação,
manifestou indignação com o nível de algumas faculdades formadoras de médicos
no Brasil.
Hoje verifica-se que a tendência do CFM é apoiar
exames cognitivos, de habilidades e competências ao final do 2º, 4º e 6º anos
de curso. O próprio Dr. Carlos Vital, atual 1º vice-presidente do CFM, durante
audiência pública realizada em 7 de novembro de 2012, no Senado Federal, para
debater projeto de lei que institui o Exame Nacional de Proficiência em
Medicina, assim manifestou-se: “Há um consenso entre as entidades médicas de
que é preciso fazer uma avaliação dos egressos das escolas médicas,
especialmente após a abertura indiscriminada de cursos no Brasil”.
A Ordem dos Advogados do Brasil já realiza exame de
qualificação para os graduados do Direito. E faz muito bem e com competência. O
CFM ensaia, como se vê, de forma efetiva e forte, avaliar os seus profissionais.
São dois bons exemplos que os demais cursos de graduação do país deveriam
seguir. Assim, quem sabe, talvez essa ação faça valer o ditado popular de que
“se estabelece que tem competência, quem não tem...” Será? ôpa, espera um
pouco, com a palavra Dr. Ivo Pitanguy um dos maiores cirurgiões plásticos do
mundo..
“Nos últimos anos, a medicina passou a ser um pouco
mais corporativista e terceirizada. Hoje, com todos os recursos disponíveis os
pacientes são mais informados, mas muitas vezes de uma forma superficial. Eles
têm a necessidade de uma conversa íntima com o médico para que possam ser
compreendidos. O médico tem que perceber que o outro, seja rei ou mendigo, está
na sua dependência, o que é grande responsabilidade. Quando sentimos que alguém
depende de nós, nossa obrigação é bem maior, e como médicos estamos sempre
nessa posição. O conselho principal é sentir que temos diante de nós uma pessoa
que espera que possamos ajudá-la nesse longo caminho pela vida ou pela doença”.
E agora prestemos atenção na reflexão do Dr. Ricardo
Paiva, cardiologista brasileiro renomado e membro da Comissão de Ações Sociais
do CFM: “Médicos são membros da mesma sociedade individualista e competitiva,
mas necessitam cultivar o compromisso com o ser humano, independentemente de
sua carga de estresse no trabalho, remuneração e necessidade de reciclagem
constante [...] nunca nenhuma máquina, nenhum procedimento de alta complexidade
substituirá as atitudes de carinho que possibilitam o fortalecimento do
paciente ante sua enfermidade. A sociedade não mudará se não houver uma mudança
individual em cada um de nós”.
Por fim, transcrevemos o texto abaixo extraído do site
da Sociedade Brasileira de Bioética/SBB (Fonte: CFM), o qual
permite-nos melhor entendimento e compreensão sobre a verdadeira situação da
formação dos trabalhadores da medicina, cuja precariedade se traduz em um
problema que envolve a todos nós enquanto cidadãos e atores sociais, portanto
com deveres perante os médicos e demais trabalhadores da saúde que enfrentam
severos dilemas éticos, técnicos e sociais durante a formação acadêmica.
Foto arquivo:Marcos Eugênio |
Conselhos de Medicina exigem qualidade na formação de
novos profissionais
O Conselho Federal de Medicina (CFM) avalia que a má
qualidade do ensino médico no país atingiu nível preocupante, que exige adoção
de medidas pela sociedade e pelas autoridades. Dados levantados pelo Conselho
mostram que o número de escolas de medicina deu um salto significativo a partir
da década de 90. Durante o período de governo de Fernando Henrique Cardoso
(2003 a 2010), 44 escolas foram abertas, enquanto no governo Lula (2003-2010)
outras 52 foram inauguradas. Já o atual governo autorizou a abertura de 18
novas escolas.
Ato todo o país conta com 197 escolas médicas, sendo
que destas 114 (58%) são privadas. De número absoluto o país só perde para a
Índia em número de escolas. Durante reunião realizada nesta terça-feira (11),
em Brasília, a diretoria do CFM e os presidentes dos Conselhos Regionais de
Medicina dos 27 estados reafirmaram que é inadmissível a baixa qualidade das
escolas existentes e a incapacidade de formar adequadamente os médicos
brasileiros.
Para o presidente do CFM, Roberto d’Avila, a decisão
de abrir novas vagas na área, anunciada recentemente pelo Ministério da
Educação, desconsidera a qualidade da formação dos novos profissionais, expondo
a população a uma situação de risco.
Ele adverte: “Esperamos rigor e seriedade na formação
do médico brasileiro, eliminando as distorções no ensino que prejudicam toda a
sociedade. Somente, assim o país poderá contar com uma assistência de qualidade
tanto na rede pública, quanto privada”.
Além dos dados apurados pelo CFM sobre o número de
escolas médicas, o Conselho tem informação da criação de outros 15 novos cursos
de medicina.
Números do próprio Ministério da Educação confirmam,
no entanto, a fragilidade do ensino médico. Levantamento realizado ao longo de
dois anos, no âmbito da Comissão de Especialistas da Secretária de Ensino
Superior do próprio Ministério da Educação, (sob a supervisão do ex-ministro
Adib Jatene), já demonstrou que parte significativa das escolas de medicina
existentes não possui condições de oferecer a capacitação necessária aos seus
alunos.
Os resultados mostraram que mais de 20 instituições
alcançaram notas baixas (de 1 a 2) e nenhuma das 141 avaliadas conseguiu ser
classificada na faixa máxima (nota 5). “Este problema afeta, sobretudo, a
população que fica a mercê da assistência oferecida por indivíduos com formação
deficiente”, afirmou o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital.
A criação de uma carreira de estado para o médico –
garantindo-lhe infraestrutura para o exercício da medicina, acesso a programas
de educação continuada, possibilidade de progressão funcional e salários
compatíveis com a dedicação e a responsabilidade exigidas – é a melhor solução
para o impasse.
O presidente afirmou que para garantir esta fixação do
profissional é necessário valorizar não só os médicos, mas toda a equipe de
saúde do SUS. “Não se pode querer que um profissional trabalhe com contratos
precários onde ele sequer recebe o salário por não seguir a opinião partidária
do prefeito”, exemplificou.
Distribuição – Outro ponto que chama atenção do
CFM é o debate sobre o total de médicos no Brasil. Atualmente, o país tem 371
mil médicos, com uma razão de 1,95 médicos por mil habitantes, que é superior à
média mundial (1,4 por mil habitantes), conforme relatou a OMS em seu último
relatório.
Infelizmente, os médicos brasileiros estão
concentrados nos estados do Sul e Sudeste, nas capitais e na faixa litorânea.
Estados como Distrito Federal (4,02 médicos por 1.000 habitantes), Rio de
Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31) possuem indicadores
próximos de países europeus. Por outro lado, no Norte e no Nordeste, esse
número se assemelha a de nações subdesenvolvidas. No entanto, para o CFM, em
todos os estados há relatos de falta de profissionais na rede pública, o que
decorre, essencialmente, da falta de estímulos para a fixação dos profissionais
nas áreas remotas do interior e nas periferias dos grandes centros urbanos. “Se
a questão fosse apenas numérica, em alguns estados como o Distrito Federal que
tem uma média de 4 médicos por 1.000 habitantes, não existiriam reclamações,
como a imprensa apresenta cotidianamente”, destacou d’Avila.
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