Inácio A. Torres
Todo ano recebemos inúmeras mensagens natalinas. Também, levado pelo ritmo e espírito da época, já construímos algumas delas. Neste ano, recebemos de presente o livro “José Airton Barreto – uma vida em diálogos”, de autoria de Miriam Rivalta e Fabiana Almeida, ambas estudiosas da Terapia Comunitária e humanistas por convicção.
Airton é um advogado que resolveu espontaneamente viver numa favela de Fortaleza, onde desenvolve um trabalho comunitário de grande relevância social.
Pois bem, como estamos na época natalina, nada melhor que extrair do referido compêndio um texto reflexivo sobre esse momento. A seguir o texto e esperançoso ficamos de que sirva de saudável reflexão para todos.
Ao lado da minha casa, em Quatro Varas, havia uma casa pobre feita de papelão. Ali morava uma família e uma das filhas tinha entre sete e oito anos. Todos os dias à tarde, a menina saia para a praia levando uma grande bacia. Essa bacia tinha um furo e uma corda, e eu pensava que a menina iria brincar com aquele objeto. No entanto, para minha surpresa, era um instrumento de trabalho, pois ela catava o lixo da praia e colocava na bacia. Quando a bacia enchia, ela a puxava pela corda e trazia todo o lixo até a sua casa.
Todo lixo era colocado ao Aldo de sua casa. Depois de três meses, o volume de lixo era enorme. Mais ou menos dia vinte de dezembro, por volta das quatro horas da tarde, alguém bateu em minha porta. Era a menina que trazia um copo de café, um pedaço de pão de milho com manteiga para me entregar.
Eu disse: - “quem mandou?” - Ela me disse orgulhosa: “Fui eu que vendi o meu lixo e pude comprar comida”. Na hora fiquei tocado, tive a impressão de que estava comendo o “suor” daquela criança.
No dia 24 de dezembro, por volta das quatro horas da tarde, sai de Quatro Varas para passar o Natal com minha família. Depois de alguns passos, ouvi uma criança que se aproximava correndo.
Era a menina, que se aproximou de mim e disse: - “Airton, onde é o Natal?” Aproximei-me dela e me fiz de desentendido, dizendo que não havia entendido sua pergunta. Ela prontamente respondeu: - “Você poderia me dizer onde é o Natal? Eu queria saber, onde é o Natal?” Minha resposta foi o silêncio e um longo abraço na menina.
E, até hoje, sempre quando estamos perto das festas natalinas, eu me faço a mesma pergunta: - “Onde é o Natal?”
Coluna publica simultaneamente com o pbnoticias.com
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