Por que o homem brasileiro não cuida da própria saúde? E, de fato, não cuida mesmo! O porquê? Desde criança aprendeu que homem não chora, homem tem força, é forte; procurar os profissionais de saúde é coisa de mulher, de crianças e de idosos.
É claro que essa situação não se restringe ao Brasil. As pesquisas mostram que, no mundo inteiro, os homens pouco cuidam da saúde e, por incrível que pareça, as causas são as mesmas. Repare nas palavras do pedagogo Romeu Gomes. “Os cuidados com a saúde em geral são percebidos como femininos e não masculinos; os homens costumam ser vistos como fortes e invencíveis e, por isso só buscam ajuda quando não conseguem trabalhar”.
Por outro lado, falta acolhimento ao homem no âmbito da saúde. Para maior atenção ao homem há necessidade de se capacitar melhor os trabalhadores da saúde, principalmente os agentes comunitários e os integrantes das equipe de saúde, enfermeiro, dentistas e médicos.
Sobre esse assunto, o professor pernambucano Jorge Lira da Fonseca, com razão, critica a forma com que a mídia cobre a atenção à saúde do homem brasileiro. Diz ele: “o foco é quase sempre o exame de toque, tratado com ironia, com uma mensagem subliminar homofóbica [...] o que acaba afastando ainda mais o homem dos serviços”.
Na verdade, em se tratando de câncer de próstata, essa é a nossa realidade. Uma realidade que causa muita preocupação. E sua comprovação está nos dados do próprio Ministério da Saúde. Em 2007, enquanto as mulheres somaram 16 milhões de consultas ao ginecologista, os homens fizeram apenas 2 milhões de visitas ao urologista. Com isso o câncer de próstata avançou e muito, fato que pode ser conferido nas estatísticas a serem citadas ainda nesse ensaio.
Alegremo-nos: de 2010 para cá vislumbra-se novo horizonte. Agora mesmo, seguindo o exemplo do Outubro Rosa, movimento que chamou a atenção de todas as mulheres do mundo sobre a prevenção e detecção precoce do câncer de mama, a Associação pela Saúde da Próstata, lançou desde o início de novembro, a campanha Novembro Azul, que tem por objetivo alertar os homens sobre o câncer de próstata e a importância de fazer periodicamente os exames preventivos da doença.
O Novembro Azul é o movimento que busca desmistificar o exame que faz o diagnóstico precoce do segundo tipo de câncer que mais mata os homens: o de próstata. Segundo o Instituo Nacional de Câncer (INCA), essa doença representa 10% do total de todos os cânceres diagnosticados no Brasil, sendo o sexto mais comum. Na Paraíba, conforme dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), em uma década, o número de internações de portadores aumentou 354,84%, passando de 62 casos em 2001 para 282 em 2010. Nesse mesmo período, o número de óbitos cresceu abruptamente: em 2001 o câncer de próstata matou 65 paraibanos e, em 2010, 263, o que significa um aumento de 304%. Em 2011, 195 paraibanos já foram internados com câncer de próstata e conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidae (SIM), ocorreram 190 óbitos.
Falemos da próstata. Trata-se de uma glândula que se localiza na parte baixa do abdômen do homem. É um órgão muito pequeno, tem forma de uma maça e situa-se abaixo da bexiga e a frente do reto. Envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. Produz parte do sêmen – líquido espesso que contém os espermatozóides liberados durante o ato sexual.
São fatores de risco para o câncer de próstata: genética, negros e indivíduos com dieta excessivamente gordurosa. A idade é também um fator de risco importante para o câncer de próstata, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. Pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos pode aumentar o risco de se ter a doença de 3 a 10 vezes comparado à população em geral, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias.
Realce-se: mesmo com toda informação midiática a favor, o câncer de próstata ainda é um tabu para muitos homens. É um assunto constrangedor, não pela doença em si, mas pelo método de prevenção e de diagnóstico. O exame conhecido, como toque retal, fundamental nesses casos, ainda é motivo de galhofa e de rejeição para muitos adultos. A vergonha de ser examinado por um urologista é o que faz a doença crescer de forma assustadora no corpo do homem.
Hoje, mais do que qualquer outro tipo, o de próstata é considerado um câncer da velhice/envelhecimento, já que cerca de três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.
O pior: a grande maioria desses tumores cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³ ) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem. Já outros podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. Por essa razão, quanto mais cedo diagnossticada a doença, maiores as chances de cura. O diagnostico precoce garante cura de 100%.
No exame digital retal, o urolugista detecta anomalia na próstata, a qual, associda aos rsultados do exame PSA, decide-se pela biópsia. Confirmada a existencia da doença, inicia-se o tratamento, que pode ser cirurgico - com a remoção total da glândula e dos linfonodos da pelve - ou radioterápico. Esse tratamento é feito na Paraíba.
A prevenção do câncer de próstata consiste basicamente em uma alimentação a base de cenoura, tomate, mamão e espinafre; manutenção de taxas normais de colestrerol; prática de exercícios físicos ao ar livre e com alguma exposição solar; redução do consumo de álcool e não fumar.
Convem lembrar que, além do câncer, a próstata apresenta outras doenças que associam-se qualidade de vida das pessoas. Trata da Hiperplasia Prostática Benigna(HPB) e Prostatites. A HPB acarreta o aumento da próstata. Inicia-se por volta dos 40 anos e a partir dos 50 podem surgir implicações como: dificuldades para expelir a urina e necessidade de levantar várias vezes durante a noite para ir ao banheiro. O principal sintoma, nesses casos, é a perda de força do jato e o aumento da frequencia urinária, que incomoda bastante. Os principais fatores de risco da HPB são o histórico familiar, pele negra e ingesta de gordura. O tratamento pode ser medicamentoso ou cirúrgico.
Já as prostatites são causadas por infecções bacterianas do intestino que contaminam a próstata. Nesse caso, afetam homens jovens e causa desconforto local, dor na região genital e dificuldade para urinar. No casos agudo, exigem tratamento emergencial com internação. Nos crônicos, o tratamento é feito com antibióticos. Para melhorar o quadro sintomatológico do paciente, associam-se outros medicamentos como relaxantes musculares e antidepressivos durante o tratamento.
Por fim, fica esclarecido que, para fazer o diagnóstico do câncer de próstata os exames digital retal e PSA são imprescindíveis. Portanto, como disse o escritor Zé Cavalcante certa vez: “aqui não há outra saída, é sem eira nem beira (...) e quem não quiser ser mexido no fiofó vai pro buraco mais cedo (...) aliás, os cemitérios estão lotados de machões que recusaram a dedada da salvação”. Falou a voz do povo.
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