Inácio Andrade Torres
Max Gehringer, 62 anos, é administrador de empresas e escritor. Mas, para chegar a fama, percorreu uma longo caminho. Começou sua carreira como office-boy da antiga CICA, na cidade de Jundiaí, São Paulo.
Dono de um estilo elegante recheado de humor e fina sensibilidade, Max constrói seus textos a partir de sua vivência prática no mundo dos negócios, terreno que ele conhece bem desde crianças, quando aos doze anos assumiu o primeiro emprego, o de auxiliar de faxina.
Daí para a frente não parou mais, assumiu vários cargos culminando com o de presidente da Pullman. Hoje, é bastante conhecido por sua produção literária e pela sua participação no programa fantástico da rede globo de televisão. Leia dele o texto abaixo e conheça melhor a maneira de escrever desse descobridor e incentivador de talentos.
“Duas pulgas estavam conversando e então uma comentou com a outra:
- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí nossa chance de sobrevivência quando somos percebidas pelo cachorro ser zero. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas.
Elas então contrataram uma mosca como consultora, entraram num programa de reengenharia de vôo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra:
- Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao corpo do cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a velocidade da coçada dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e levantam vôo rapidamente.
Elas então contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhes ensinou a técnica do chega-suga-voa. Funcionou, mas não resolveu... A primeira pulga explicou por quê:
- Nossa bolsa para armazenar sangue é pequena, por isso temos de ficar muito tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos alimentando direito. Temos de aprender como os pernilongos fazem para se alimentar com aquela rapidez. E então um pernilongo lhes prestou uma consultoria para incrementar o tamanho do abdômen. Resolvido, mas por poucos minutos... Como tinham ficado maiores, a aproximação delas era facilmente percebida pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo de pousar. Foi aí que encontraram uma saltitante pulguinha, que lhes perguntou:
- Ué, vocês estão enormes! Fizeram plástica?
- Não, reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI. Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento.
- E por que é que estão com cara de famintas?
- Isso é temporário. Já estamos fazendo consultoria com um morcego, que vai nos ensinar a técnica do radar. E você?
- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.
Mas as pulgonas não quiseram dar a pata a torcer, e perguntaram à pulguinha:
- Mas você não está preocupada com o futuro? Não pensou em uma reengenharia?
- Quem disse que não? Contratei uma lesma como consultora.
- Mas o que as lesmas têm a ver com pulgas, quiseram saber as pulgonas...
- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez de dizer para a lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse a situação e me sugerisse a melhor solução.
E ela passou três dias ali, quietinha, só observando o cachorro e então ela me disse:
- "Não mude nada. Apenas sente na nuca do cachorro. É o único lugar que a pata dele não alcança".
Moral
Você não precisa de uma reengenharia radical para ser mais eficiente. Muitas vezes, a grande mudança é uma simples questão de reposicionamento”.
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