Por: Iara da Silva Machado
Apesar dos numerosos trabalhos sobre a vida social e afetiva do adolescente, pouco se aprofundou o estudo sobre o pensamento próprio desse período. No entanto, é na adolescência que o ser humano adquire a capacidade de pensar e de raciocinar além dos limites pessoais e das realidades próximas.
A fase do adolescer traz consigo a passagem do estado infantil para um nível de pensamento que ultrapassa o presente e torna o jovem capaz de elaborar teorias acerca de tudo. É o momento em que o indivíduo articula projetos, sonhos e gostos pessoais para o futuro.
Dessa forma, essa fase tem uma importância singular na formação do ser ético e moral, porque proporciona o reeditar das perguntas que a humanidade se faz desde sempre, a partir do sentido existencial até o transpessoal.
O Jean Piaget definiu um período do desenvolvimento humano denominado de poder dedutivo da inteligência, que é a fase em que o adolescente constrói sistemas e teorias, concentrando sua atenção em questões amplas, e também em pequenos detalhes, pois já é capaz de reconhecer e distinguir variáveis e combinações de variáveis, assim o meio ambiente adquire muitos matizes novos.
O pensamento do adolescente torna-se independente, de certo modo, da representação e das imagens. Ele passa a operar com diversos conceitos abstratos cujo conteúdo não é representável de forma concreta. (Griffa & Moreno).
Tais considerações explicam a transição do período adolescente no tocante aos questionamentos dos valores e crenças familiares, quando expõem suas opiniões, às vezes, contrárias aos padrões, sobretudo, rígidos de processos educativos, anteriores dos pais.
Daí, a famosa sentença dos “conflitos de gerações”, que nada mais é do que um convite a releitura dos princípios formadores da mente humana há 60, 50, 40 anos atrás e o “boom” tecnológico das últimas décadas trazendo informações inúmeras para a nova formação cultural do homem. Num exercício de assimilação dos valores do “homem do saber” para o “homem da tecnologia”. E aprendendo que uma condição não exclui a outra, e sim, ambas as funções de desenvolvimento se somam e fundem-se numa perspectiva mais abrangente do ser intelectual que agrega leituras mais globais e, portanto uma visão de mundo mais dilatada, podendo tornar-se positivamente, menos discriminatória e mais integrativa.
O nível de interatividade da juventude no eixo virtual contemporâneo abre fronteiras dantes não percebidas e, portanto desconhecidas, que faz com que muitos desses jovens maturem valores intelectuais que nivelam seu discurso ao dos adultos do seio familiar.
Logo, o grande desafio da família da juventude atual é a atenção aos próprios princípios, crenças, atitudes e valores que consideram importantes, aqueles que não apresentam necessidade de modificação ostensiva, que são os pilares referenciais da formação e educação dos jovens naquele lar, e aqueles outros que podem ser modificados através do diálogo fraterno, filial, parental e social adequados, francos e leves para que o adolescente deseje refletir sobre aquilo que foi proposto e não imposto como bom atributo humano.
Na fase do desenvolvimento intelectual adolescente o verbo a ser conjugado nas famílias é o compartilhar, para que através do entendimento e da amorosidade a juventude queira ouvir e acatar princípios importantes, que “nunca caem de moda”, e que serão úteis nas suas jornadas de crescimento pessoal e social.
Coluna publicada simultaneamente com o pbnoticias.com
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