O CARNAVAL

Carlos Pessoa de Aquino*

 

"O carnaval entre nós deixa de ser... a festa pagã que o cristianismo não estragou de todo - e em que resta alguma vivacidade e algumas alegrias dionisíacas - para ser mais do que tudo isto: uma tradição venerável, uma festividade adorada, um hábito da sociedade que tem a significação de um desafogo na existência árida do brasileiro, que vive sem comodidade, sem dinheiro, sem orgulho, sem heroísmo, sem coisa nenhuma."

Gilberto Amado

            É chegado o instante do reinado Momesco, de festas, alegria, extravasamento de liberdade e de sentimentos diversos que beira a extravagância, ao extremismo, e a exacerbação de entusiasmo. Uma verdadeira catarse com descargas de sentidos e emoções. 

 

            Tal festa popular foi introduzida no Brasil provavelmente no século XVII pelos portugueses inspirada no Entrudo, e foi influenciada pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Os autores explicam este nome a partir dos termos do latim “carne vale”, isto é, “adeus carne” ou “despedida da carne”; esta derivação indicaria que no Carnaval o consumo de carne era considerado lícito pela última vez antes dos dias de jejum quaresmal. Esse perí odo de folia que precede a quarta feira de cinzas foi criado na Itália, na Idade Média. Efetivamente deveria ser uma festa da igreja católica relacionada com a quaresma, significando etiologicamente “abstenção de carne”, mas que na pratica se tornou a festa que dá vazão a carne.

 

            Esse folguedo deveria ser comemorado com a aura da parcimônia, tolerância, felicidade, alegria plena, sem violência, agressividade e estupidez que contrariam a tradição desse festejo.  Nosso País, conhecido popularmente como o País do carnaval, guarda extrema identidade com essa festa ante o espírito gozador, festivo, irreverente e criativo do brasileiro. Realçam as fantasias de extremo bom gosto, os desfiles exuberantes dos carros alegóricos, os magníficos sambas- enredo, os bailes animadíssimos, as men sagens bem elaboradas com chistes criativos,os protestos bem humorados, a liberdade ecoando seu grito e pedindo passagem pelas ruas e ladeiras de Olinda, Recife, Salvador, bem assim, por todos os quadrantes do nosso maravilhoso  Brasil que se revela nesses instantes ser possível a unidade de todo um povo em reunião com o objetivo precípuo de festejar homogeneizado nas suas cores, classes, credos, raças, sem preconceitos e discriminações de qualquer natureza a vestir a indumentária da celebração, da fraternidade e do congraçamento. 

            A Paraíba, em especial Campina Grande, detém uma vocação que se consolidou ao longo do tempo. Comemora-se o carnaval em um encontro de dimensão nacional. Refiro-me ao Encontro da Nova Consciência que este ano tem como tema “Sustentabilidade e Responsabilidade Sócio-ambiental”. A Cidade de Campina se transforma em um espaço para a ciência, a cultura, a Arte, `as Tradições Religiosas e tudo o que diz respeito ao Patrimônio Cultural e Imaterial. Definitivamente uma forma inteligente de se aproveitar esse breve hiato par a se cometer reflexões, partilhar apreensões, duvidas, dirimir e esclarecer conflitos que envolvem corpo - mente - espírito.

 

            O carnaval, em todas as suas formas de comemoração, deve ter como essência a paz, o respeito, a compreensão das limitações, a parcimônia e o amor, perfeitamente conciliados e compatíveis com a alegria, a liberdade e a diversão. Portanto ao seu modo, ao seu estilo, DIVIRTAM-SE COM PAZ E ALEGRIA!

 

*Advogado, Professor da UFPB, membro do Instituto dos Advogados do Brasil –IAB.