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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Crítica cinematográfica


“O SONO DO PAPA”
(por Misael Nóbrega de Sousa - colaborador)


O filme “Tropa de Elite”, de José Padilha, era o mais disputado nas bancas de camelôs de todo o país, antes mesmo de ser apresentado, oficialmente, para o público brasileiro. Na verdade, criou-se uma expectativa muito grande em torno do filme, que prometia mostrar como funcionava o crime organizado no Rio de Janeiro e desmascarar, assim, um monte de figurões.
(esse negócio de “expectativa”, comigo não funciona muito bem. Acho que tem a ver com essa tal de ansiedade).
Sem um pingo de remorso, paguei a bagatela de 2,00 reais e levei pra casa uma cópia pirata da película mais comentada do momento. Crime ou castigo... – Dostoiévski que me perdoe, - tive que voltar lá no rapaz, umas três vezes, para trocar o dvd, pois o danado não queria rodar no meu aparelho. Enfim...
Os morros da cidade maravilhosa serviram de pano de fundo para o enredo que teve a Polícia Militar como a instituição mais atingida. A cena mais aguda, pra mim, foi a do sub-comandante Carvalho (Alexandre Mofatti), na penumbra de seu escritório, baforando o charuto enquanto observava as viaturas saindo para mais uma batida policial. A idéia era garantir “o sono do papa”, que estava de passagem pelo Brasil.
“Tropa de Elite” apesar de ser um filme de ação, muito bem rodado, não apresentou nada de diferente daquilo que vemos nos noticiários de TV. Está claro para todo mundo que rico é quem financia o tráfico de drogas, em qualquer lugar. Portanto, não houve nenhum novo conceito de moral. Achei a narrativa do Wagner Moura um pouco maçante. A linguagem chula foi outro ponto negativo: - Porra! Tinha palavrões pra cacete! A legenda, em inglês, a cada mudança de cena, não me era, também, muito simpática, parecia apenas mais uma história para gringo ver. E a gente tem que acabar com essa síndrome do Oscar. Acredito que já dominamos as técnicas da chamada “sétima arte”, ou estou enganado?
A versão argentina de “Tropa de Elite” é considerada um dos melhores produtos dessa nova fase do cinema latino. El Bonaerense é dirigido por Pablo Trapero e tem como título comercial: “Do outro lado da lei”. O filme que já papou alguns prêmios, inclusive, o da Associação Internacional de Jornalistas, no festival de Chicago, estreou, em 2002, e dizem os críticos que é obrigatório para quem gosta de cinema. Em “Do Outro Lado da Lei”, o ator Jorge Román, que vive o papel de Zapa, um rapaz interiorano que se torna policial, tem momentos “muy calientes” com uma coleguinha de trabalho. O caso só não dá mais certo porque a mocinha descobre o envolvimento de Zapa com a máfia portenha e coloca um ponto final na história.
No nosso “todo mundo é bandido”, a novelinha Shakespeariana, destaca-se, não por algo trágico, mas pelo inusitado - para os “padrões sociais brasileiros”: Homem, negro, pobre procura: mulher, branca, classe média, para um encontro casual e quem sabe algo mais... E assim acontece. Não durou muito, é bem verdade.
O aspirante Matias (André Ramiro) vive em dois corpos (uma coisa meio espírita, sabe-se lá?)- só que ele não consegue ser nem um bom estudante nem um bom policial –, uma vez que as atuações não me convenceram – Mas, também eu não sou crítico de coisa nenhuma. Agora, trabalhando ruim fica mesmo difícil ele procrastinar (uma palavra aliás bem apropriada) o romance com a deliciosa Fernandinha Machado, quem dera longe da ficção.
Pelo pôster de cinema (tamanhas eram as suas caras e bocas), parecia que o Wagner Moura seria o herói incondicional e que mataria todos os bandidos da terra com a sua arma de plástico. E aí eu volto a falar no mocinho – se é que há mocinho nesse filme. Mas, a crise de consciência de Capitão Nascimento, - revelou que ali havia um padecimento humano - quando acometido de doenças da moda, tais como: fobia, estresse, pânico – e quando procurava ajuda profissional, também.
Em “Tropa de Elite” não houve final feliz; todos perderam. E a fala do traficante “Baiano” (Fábio Lago) numa das últimas cenas pontuou bem isso: - Na cara não! Na cara não! Para não estragar o velório!

Professor e jornalista

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