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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coisa Chata


Efigenio Moura (contato@efigeniomoura.com.br)

Adailton Silva Lampiano.
Ele saiu desde o ano passado de Pernambuquinho, quando descobriu que viver tapando buraco de estrada com barro não iria dar a ele a condição de comprar para Augusto Jefferson, seu filho único, a monareta prometida.
- Vô pra cidade grande.
De imediato aprumou o rumo da venta pra Sertânia.
- Vô fica na casa de Junho Cavalcanti, da rádia de Monteiro.
Micaela Brígida, esposa e sobrevivente achou a ideia desinteressante.
- Se é pra fica longe d’eu, vá pra már longe?
No juízo de Adailton, o que seria mais longe? Arcoverde? Monteiro?  Caruaru? São José de Espinharas?
- Buíque.
- Homi vá logo pra Récife, lá tem Rajadin quié primo teu e arruma trabaio, adispois ô vô cum Argusto Jefferson.
Chegou a Recife com a musica de Petrúcio Amorim no quengo, a voz de Cristina Amaral zunindo de orelha a orelha, por dentro...
‘ Cidade grande moça bela...”
Logo amparado por Rajadim, fora auxilia-lo em seu trabalho.
- Ó  Dailtu, tu siliga quitué meu gerente nas esquinas.
Era gerente do sinal da Rua José Bonifácio, ali, na Torre, quase em frente a uma concessionaria de carro estrangeiro.
Com o kit limpeza: Garrafa pet de 500 ml, contendo agua do Beberibe e um pedaço de sabão em barra, dissolvido, um rodo pequeno, bailava Adailton pelo asfalto gasto das ruas de Recife, na hora da pausa, entre um abrir e fechar de sinal surge uma conversa mais intima.
- Dailtu tu onti tava cum nêga Xuxa néra ?
- Oxe eu não? Quem diche ?
- Minta não. Ô vi.
- Tava so cunversano.
- No iscurim, fazeno baruio de gata no cio ?Homi to cumeno cunversa não...
O Sinal fecha.
- Vai uma limpadinha aí patrão.
Vidros fechados, Os dedos em negativas. O para brisa já melado. O motorista fazendo cara de desgosto e cedendo. Abre o vidro, despeja algumas moedas e tenta dizer algo que não se arrependa depois...
O Sinal abre.
- Vorte pra conversa Dailtu.
- Vamo conta o apurado logo.
-  Nan. Tu xamegasse cum Nêga Xuxa ?
- Foi só um tiquin !!!
- Homiiiiiiiiii! Pelo amô di Deussssss...aquela mulé é fulêra dimais, primo.
- Oxe, achei não, achei muito arrochadinha...
- Tu viu a ruma de cabelo qui a mulé tem nas parte?
- Vi não, tava no escuro.
- Apôi, pia a tuia!!!
- Vixiiiiiii purisso era tão fofim ?
- Meu amigo, varei... Já peguei umas duas ou três veiz. Todo mundo pegava...
- Pegava ela era?
- Ela o caba so pega uma veiz. So uma...óia o siná...vai uma limpadinha aí :
Volta o cenário anterior: motorista subindo o vidro, negando, alguns sem ar condicionado, tentando protelar...O sinal abriu.
- Qui istora é essa Rajadin ?
- É uma conversa de muito chato.
- Ixprique dereitin! Lá in Pernambuquin tem disso não.
- Tu num ta sintino uma cocêra perto do negoço não ?
- Tô, nos quiba!
- òia o siná...
Agora o sinal foi bom. Três lavadas urgentes de para-brisa. Quase 1,50 de lucro e uma coceira nas partes...
- Rajadin, e todo homi num coça o saco não ?
- Coça, mas essa coçada é cuma se fosse uma pinicada... Tu já teve piôi ?
- Tive lêndia, inda hoje Argusto Jeferson cria uma pareia qui  passei pra ele...
- Nêga Xuxa tem chato quisó a bobônica...
- Chato ?
- Piôi das partes.
- Eita gota!!! E pega ?
- Mastá! Pega qui se cria no premeiro incronto..É a besta fera de ligêro.
Adailton começou a coçar as parte e imediatamente chegou à imagem de Micaela Brígida.
- Chegá in casa vou daná Detefon...
- Mata não.
- Eita gota! E tu butou o quê ?
- Oxe, tava lavano o banheiro lá no meicado da Madalena, e vi um lito de criolina dano sopa,  rôbei o danado e matei tudin...
- danou-se Rajadin, criolina ?
- Num ficou um .
- Oxe e a criolina num fez  má a tu não ?
- Tu acha qui os povo me chama de Rajadin pru mode ? Oiá o siná...

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