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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

MONSENHOR MANUEL VIEIRA

José Romildo de Sousa (*)

No final da década de 30, sempre que vinha a Patos, o bispo de Cajazeiras, Dom João da Mata de Andrade e Amaral manifestava o desejo de criar um ginásio que viesse a servir de suporte para a orientação da juventude local.
Padre Fernando Gomes, vigário paroquial, que também sonhava com um educandário aqui em Patos, decidiu implementar a idéia do bispo e, a partir da ajuda dos deputados José Peregrino de Araújo Filho e Ernani Sátyro o sonho começou a ser concretizado; principalmente, a partir do repassar para a Diocese de Cajazeiras das antigas instalações que pertenceram ao II batalhão de Polícia, que se encontravam ociosas na Praça João Pessoa. E, assim, veio e nasceu o Ginásio Diocesano de Patos que teve na pessoa do Professor Antônio Lustosa Cabral e dos padres: Acácio Cartaxo Rolim, Vicente Freitas e Manuel Vieira, os seus quatro primeiros diretores.
Durante a administração de cada um destes orientadores educacionais, o Diocesano foi consolidando o seu nome no cenário educativo do sertão paraibano. Entretanto, foi na gestão do Monsenhor Manuel Vieira, que esteve à frente do educandário por cerca de 25 anos e que “provou ser hábil na construção de edifícios humanos”, que o Ginásio teve o seu período mais áureo e a cidade de Patos sendo a grande beneficiada com as ações empreendidas por este “orientador de almas”.
Se no campo educacional o Padre Vieira prestou consistentes serviços a comunidade paraibana, no religioso “ele se caracterizou não somente pelo devotamento fervoroso a Nossa Senhora da Guia, padroeira da cidade, mas também como grande orador sacro, um dos mais respeitados do Brasil”. Em conseqüência de seus brilhantes testemunhos e do comprometimento com a vocação sacerdotal, o padre Vieira teve merecidamente, seu crescimento reconhecido pela Igreja Católica, colocando-o no posto de Monsenhor. Isso fez jus à sua vida, como ministro de Deus.
A cidade de Patos também prestou sua homenagem, em forma de reconhecimento ao Monsenhor Vieira, quando no ano de 1959 lhe outorgou o Título de Cidadão Benemérito Patoense, mensagem que foi aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pelo prefeito Bivar Olyntho de Mello e Silva, ao assinar a lei nº 383, que na justificativa exaltava as múltiplas atividades do homenageado em tela: “Não somente dirigindo o Ginásio Diocesano de Patos, mas enfrentando a construção de uma Escola Profissional, lutando pelo desenvolvimento esportivo da cidade, conseguindo, sobretudo com seu dinâmico esforço ver concretizado a criação da nossa Diocese”.
Dentro de todo este contexto, queremos registrar a passagem do centenário de nascimento do Monsenhor Vieira, neste 2007, reverenciando a sua memória e registrando nessa resenha, seu perfil como renomado educador, eminente político e inolvidável servo do Senhor.
Dados Bibliográficos
O Monsenhor Manuel Vieira nasceu no distrito de Belém, hoje município de Uiraúna, no dia 27 de fevereiro de 1907. Era filho de Manuel Vieira da Costa e de Maritana Fernandes Vieira.
Teve apenas um irmão, José Eustácio Vieira - mais conhecido por Seu Zerinho - que se casou com Joana Fernandes Vieira. Deste enlace matrimonial nasceram os sobrinhos do Monsenhor Vieira: Sávio, Terezinha (esposa do professor Durval Fernandes), José Aécio, Francisco Eustácio, Antônio, Auxiliadora, Graça e Maritana.
Na localidade de origem, ainda menino, Manuel Vieira iniciou seus estudos. Matriculou-se em seguida no Colégio Padre Rolim, em Cajazeiras. Daí seguindo para o Colégio Pio X, na capital do Estado. Logo cedo foi despertado para a vocação religiosa, motivo que o levou a estudar no Seminário Diocesano, vindo a se ordenar padre no dia 19 de outubro de 1930.
Celebrou sua primeira missa no dia seguinte a ordenação na Matriz de Belém.
Padre Vieira passou, pelo menos 10 anos, como padre na região de Cajazeiras, cuja diocese se estendia até a cidade de Patos.
Neste período foi diretor do Colégio Padre Rolim, vigário da Paróquia de Princesa Isabel e vigário regente da Paróquia de São José de Piranhas.
No início dos anos 40, Padre Vieira chegou a Patos e tomou posse na direção do Ginásio Diocesano. O Padre Fernando Gomes se referindo a chegada do recém empossado administrador daquele educandário deixou registrado no livro paroquial: “Dotado de grande capacidade de trabalho e edificante espírito sacerdotal, é, ainda, um espírito voltado para a juventude e uma vocação para formador de almas. Assim, o Ginásio de Patos vai encontrar nas qualidades do seu novo diretor os recursos de que necessita para prosseguir avante na sua obra maravilhosa de construir o futuro cristão da juventude sertaneja”.
O administrador
À frente do Diocesano, o Monsenhor Vieira provou ser um grande administrador e, sempre teve na disciplina, o seu ponto forte. Entretanto, o sucesso como educador não ficou restrito apenas ao Ginásio de Patos. Sua atuação se propagou por toda a Paraíba, a ponto do então governador João Agripino o convidar para dirigir a Secretaria Estadual de Educação.
Deixando a Secretaria da Educação, o Monsenhor Manuel Vieira iniciou a sua carreira política, elegendo-se deputado federal em 1966.
Seu trabalho como legislador foi muito profícuo e elogiado por todos aqueles paraibanos que acompanharam as suas ações e os seus pronunciamentos na Câmara Federal.
Devido a problemas de saúde, o Monsenhor Vieira renunciou seu mandato em 24 de novembro de 1970.
Ao tomar conhecimento do seu ato, o amigo Cloves Stanzel assim se manifestou: “Sairá desta casa um grande deputado. Deixará o Congresso um amigo que projeta a sua personalidade em todos os instantes em que se manifesta, quer na tribuna, quer nas comissões, quer no trato pessoal”. O líder do MDB, Padre Nobre, foi de uma sensibilidade impar ao se referir ao fato: “Monsenhor Vieira renuncia ao mandato por deficiências de sua visão física. Parece que ele prefere, longe das responsabilidades do cargo, enxergar melhor pela visão espiritual, o seu roteiro, toda razão de ser de sua vida sacerdotal”.
Voltando à Paraíba, Monsenhor Vieira passou a se dedicar à prestação de assistência religiosa aos detentos da Penitenciária Modelo, em João Pessoa.
O monsenhor Manuel Vieira veio a falecer no dia 05 de outubro de 1994, portanto com 87 anos de idade, vítima de um trágico acidente automobilístico, no contorno da cidade de Campina Grande, quando retornava do sertão para a capital do Estado. Seu sepultamento aconteceu em João Pessoa, no cemitério Senhor da Boa Sentença
O depoimento do Professor Oliveira
Toda a cidade de Patos é imensamente reconhecida ao Monsenhor Vieira pelos benefícios por ele carreados para a região sertaneja; principalmente, no que diz respeito ao esforço empreendimento quando esteve à frente do Ginásio Diocesano.
Acerca deste substancioso período fomos buscar o testemunho de um dos mais reverenciados educadores que passou pelo GDP, o Professor Oliveira, que escreveu: “Em 1942, o Cônego Vicente deixou o cargo no Diocesano por ter sido convocado pelo Bispo Dom João da Mata, a assumir a paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Cajazeiras. Então o Mons. Manuel Vieira, foi nomeado, pelo Sr. Bispo Diocesano, o quarto diretor do Colégio de Patos, tomando posse em 02 de fevereiro de 1942. A administração do Mons. Vieira se destacou por arrojadas realizações materiais no prédio e outras ligadas à educação. Após uma corajosa e longa jornada de ampliação do colégio, o edifício assumiu as gigantescas dimensões que hoje nele se observam. Teve a colaboração do povo patoense para o início da ampliação do colégio, destacando-se entre todos, José Permínio Wanderley, e o Dr. Drault Ernani de Mello e Silva. Na sua missão educacional, o Diocesano de Patos conquistou uma confiança de tal sorte que ultrapassou outras fronteiras e, à procura desse educandário, convergiam estudantes de outros Estados como – Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Alagoas. Monsenhor Vieira foi grande desportista e propagou, sobretudo, o futebolismo. O nosso futebol atingiu grande evidência em Patos, e equipou-se aos dos grandes centros, vencendo em nossa cidade os times do S. Cristóvão do Rio de Janeiro; o Santa Cruz de Recife, o Ferroviário de Fortaleza-Ce e o ABC de Natal-RN, todos no auge de sua maior fama.
Criação do TG
O basquete e o vôlei tiveram também o seu tempo. O dinâmico educador conseguiu, junto ao ministério da Guerra, a criação do Tiro de Guerra de Patos, que foi de maior utilidade à juventude dessa região sertaneja.
Em 1955, o Diocesano de Patos atingiu o apogeu de sua glória. No dia 07 de março daquele ano o Monsenhor Vieira, em mais um lance de audácia, conseguiu emplacar nesta terra o curso científico. Promoção de maior benefício aos estudantes, que podiam concluir seus cursos pré-vestibulares em Patos, sem terem de ir para longe, à procura de maiores centros científicos.
O corpo docente do Diocesano tinha talento suficiente para enfrentar o curso científico.
Os jovens discentes do Colégio Diocesano eram responsáveis nos estudos e sua competência nivelou-se, e até avantajou-se a dos estudantes do litoral. Em seu primeiro vestibular nas Universidades praianas, a turma sertaneja foi total e brilhantemente aprovada”.
Personalidade do Milênio
Pelos relevantes serviços prestados ao Estado da Paraíba, notadamente no setor educacional, o Monsenhor Manuel Vieira foi escolhido como um dos 50 paraibanos mais importantes do século XX. A eleição das personalidades de maior destaque nestes cem anos foi realizada por uma comissão multidisciplinar criada especialmente pelo Governador José Maranhão, liderada, na época, pelo Secretário da Casa Civil, Dr. Roosevelt Vita e pelo Jornalista Nelson Coelho, diretor do jornal “A UNIÃO”, que publicou em fascículos a biografia de vários paraibanos ilustres, inclusive a do Monsenhor Manuel Vieira.


(*) - Presidente da Fundação Ernani Satyro e Conselheiro Estadual de Cultura.
foto arquivo: patosemrevista

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