Marcos Eugênio
Dia 24 de dezembro, véspera de Natal, é dia da tão
celebrada ceia natalina, uma tradição cultuada praticamente em todo o mundo.
No pequeno lugarejo denominado feliznópolis, como é bastante comum nesse dia (24), todos
acordam animados e num corre-corre alucinado buscam organizar sua ceia, comprar
as últimas lembranças para a confraternização em Cristo, apesar de muitos não
lembrarem do menino Jesus, dando grande ênfase na troca de presentes.
O peru da ceia natalina não pode faltar nas
famílias mais tradicionais. As vizinhas discutem receitas, falam de parentes
que estão chegando para o momento tão importante do ano e já vislumbram desejos
de um próximo ano de muitas realizações.
Preocupadas com o peru, já descongelado e
temperado, pronto para ir ao forno, esse importante símbolo da mesa natalina, tornou-se
elemento principal de uma peleja entre as senhoras Eulina e Jacira. Depois de
percorrer o comércio em busca de quem assasse a ave, enfim descobriram uma
panificadora que atendia a esse tipo de pedido, por alguns R$, das mulheres que
temiam colocar por água abaixo sua ceia de Natal, caso não conseguisse assá-lo
bem em sua fogão de casa.
As duas combinaram e foram deixar seus perus
numa mesma panificadora para no final da tarde ir buscá-los.
Dito e feito. Os perus ficaram bem dourados e deixaram-nas
bastantes felizes.: “Pronto, o principal da ceia está pronto para ser servido”,
pensavam. Enquanto Dona Eulina estava com a casa cheia de filhos e netos, Dona
Jacira estava pronta pra viajar para uma cidade vizinha, a poucos quilômetros, para
a casa de su filha, algo que ela fazia já há cinco anos, depois que Flávia
casara com um funcionário público e tinha sido transferido de Feliznópolis.
A ceia estava prestes a ser servida. Alguns
genros de Dona Eulina já tomavam uns drinques e falavam dos últimos
acontecimentos no pequeno lugarejo, especialmente do prefeito eleito este ano,
e o que esperavam de sua administração.
Por outro lado Dona Jacira já havia se
deslocado no velho Chevette com seu esposo Eraldo em direção à casa de Flávia.
Até ai nada de anormal, até que Dona Eulina notou um detalhe que a deixou
atônita. Haviam trocado os perus na panificadora. Quando ela preparou o peru
para temperá-lo, havia cortado o sobrecu, já que ninguém ali gostava dessa
parte do animal. Foi um deus nos acuda, já que a vizinha não estava mais em
casa fazia mais de meia hora e já deveria esta sentada à mesa saboreando o peru
de Dona Eulina.
Houve um grande alvoroço e todos diziam que
tanto fazia o peru estar ou não com o sobrecu, mas Dona Eulina não queria saber
de papo e tratou logo de chamar alguém que fosse com ela até a casa da Flávia
para destrocar a ave. A muito contra-gosto um dos genros, após de Amália, filha
de Eulina, pegou a moto e foi com esta, levando o peru de Dona Jacira, muito
bem empacotado ao destino. “Vamos mais rápido”, dizia agoniada Eulina.
Quando chegaram à residência de Flávia, o
jantar já começava a ser servido. Eulina gritou, logo que entrou na casa: “Parem, não cortem esse peru”.
Todos pararam e ficaram mudos, sem qualquer reação.
Dona Eulina, após respirar fundo e meio que
envergonhada pela cena proporcionada por ela, chamou a amiga reservadamente e
começou a falar sobre o episódio, que os perus haviam sido trocados, já que o
dela não tinha mais o sobrecu. “Mulher, quando a gente acertou levar nossos
perus para a mesma padaria, de imediato retirei o sobrecu dele para poder saber
qual era o meu”. Sua amiga Jacira respondeu-lhe de pronto: “Eulina, minha
filha, juro que não tinha notado ainda. Com certeza iria perceber quando fosse
cortar o peru, já que não jogaria fora o sobrecu do meu marido, pois é a parte
do bicho que ele mais gosta”.
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