É em cima de dados dessa natureza, que mostram
um cenário de violência assustador no Brasil que acontece a capacitação de Atualização no Atendimento às Mulheres
Vítimas de Violência, oferecida pela Secretaria de Estado da Saúde e
Instituto Social Fibra aos profissionais da Maternidade Dr. Peregrino Filho de
Patos, da qual participam três turmas desde a noite de ontem (quarta-feira 26).
O evento acontece no auditório da 6ª Gerência
Regional de Saúde, tendo como facilitadoras Nelize Granjeiro, Ana Targino e
Ângela Pontes de Aquino, técnicas da SES. Na abertura a coordenadora de
enfermagem da Peregrino Filho, Gigliola Fernandes Silva falou da proposta de
educação continuada da Maternidade, que é referência no atendimento à mulher
vítima de violência.
Existe uma grande preocupação do Governo do
Estado em relação à violência contra as mulheres e quer que elas recebam toda a
proteção necessária, não apenas no atendimento pela rede hospitalar, com
trabalho humanizado, profissionais qualificados para recebê-las, mas também que
tenham acesso a todos os mecanismos legais de proteção, a exemplo do Disk 180,
conselhos da mulher, CREAS, conselhos tutelares (prioritariamente quando
tratar-se de meninas), delegacias, secretarias especializadas na sua defesa.
“Ao chegar ao Hospital a mulher que sofreu
violência tem que ser recebida por pessoas capacitadas e sensíveis ao seu
problema e que realmente a ajude, prestando socorro e acionando os órgãos que a
protejam do agressor”, comentou Ana Targino.
Nessa capacitação a equipe da SES está
trabalhando todos os setores de acolhimento da Maternidade Peregrino Filho,
inclusive na sensibilização desde a porta de entrada, com porteiros, maqueiros,
triagem, equipe médica, na própria Maternidade.
Três tópicos estão sendo discutidos com as
turmas, formadas por psicólogos, farmacêuticos, enfermeiras e técnicas de
enfermagem: sensibilização do profissional em saúde, dando grande ênfase no
cuidar; apresentação do protocolo de assistência à mulher vítima de violência
na Maternidade Peregrino Filho e o preenchimento na ficha de notificação
compulsória. “Todos os anos a gente realiza essa atualização devido às mudanças
no quadro funcional. É preciso que todos saibam como fazer esse acolhimento a
quem chega numa situação bastante constrangedora ao Hospital”, disse Ana
Targino, que coordena a capacitação.
Só a partir de 1998 é que o Ministério da Saúde
passou a tratar a violência contra a mulher como um problema de saúde pública,
isso por perceber os altos investimentos dos cofres públicos com seu
tratamento. São diversos tipos de violência a que são submetidas as mulheres
brasileiras, como a violência sexual, psicológica, institucional, intrafamliar,
de gênero, doméstica, física, patrimonial, dentre outras.
A violência institucional foi exemplificada
pelas facilitadoras por fazer parte da rotina das instituições públicas. O
simples ato de não saber escutar demonstra a negligência do servidor, além do
preconceito, frieza, o não encaminhamento correto para os casos que lhe chegam.
“É uma obrigação do profissional de saúde perceber a violência sofrida pela
mulher, principalmente no âmbito hospitalar”, enfatizou Ana Targino.
Em relação à cidade de Patos ela disse que há
um agravante em relação à violência contra a mulher: a prostituição, muitas
vezes associada ao consumo de drogas, em que garotas vendem seu corpo para
manter o vício, como também a violência doméstica. Ângela Porto apresentou a
ficha de notificação que passa a fazer parte da rotina dos funcionários da
Maternidade. Falou dos procedimentos a ser adotados pelo acolhimento, os tipos
e lesões, a evolução do quadro da mulher que chega apresentando sintomatologia
de agressão, como também que encaminhamentos devem ser adotados pela
Maternidade.
Algumas estatísticas são apresentadas nessa
atualização com o pessoal da Peregrino Filho, como a de 70% dos casos de
violência contra a mulher serem cometidos por seus parceiros; de cada 100
mulheres assassinadas 60 são mortas dentro de casa e a que aponta a capital João
Pessoa como sendo a segunda do país em violência contra a mulher.
Ana Targino disse que a Lei Maria da Penha (11.340/06), que provocou desde sua aprovação a abertura de mais de 300
mil processos, supera 100 mil sentenças e mais de 1.500 prisões deu maior visibilidade à violência contra a mulher. Mas também alertou
para o crescimento da violência, que precisa ser denunciada, até mesmo pelos
vizinhos, que não precisam se identificar para fazer isso.
Na Paraíba 37 municípios informam casos de
violência contra à mulher no SINAN - Sistema de Informação de Agravos de
Notificação. A Maternidade de patos, que reativou sua Comissão de Combate à
Violência contra a Mulher, também passa fazer parte dessa rede de notificação,
com essa capacitação. Este ano a Peregrino Filho já tem o registro de quatro
mulheres vítimas de violência.
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