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terça-feira, 30 de setembro de 2008

REVISITANDO SETEMBRO


Por Misael Nóbrega de Sousa
(crônica)

Setembro é mês de festa; setembro da Guia; festa de setembro; festa da Guia... maçã do amor; postal sonoro; roleta da sorte; algodão-doce; tiro ao alvo; bingos; cachorro-quente; bendições; pescaria; tenda de tatuagens; balões de ar; miçangas; o sino da igreja badalando sob o manto da noite... Não foi preciso andar muito para notar que ela ainda estava lá, um pouco acanhada, é bem verdade; mas, talvez, eu, é que estivesse diferente.
Um coser, que começa na Solón de Lucena, e seduz algumas ruas adjacentes, para receber os parques de diversões que se instalam, por costume. É quando castelos se levantam bem no centro da minha cidade, pintados de forma lúdica e com as cores emprestadas do arco-íris; e todas as gerações têm a liberdade de sonhar com a materialização da alegria. O cenatório é de um grande circo.
Geringonças inventivas se amontoam com a jura do melhor divertimento. E alguns brinquedos chegam perto do céu; e, enfim desmaiam à terra firme, extasiados de encantamento. Os passatempos estão mais modernos e as crianças um pouco menos crianças. Vejo o carrossel e não resisto... Lembro do “parque Lima” e de quando minha mãe me levava para dar voltas em torno da vida; teria ainda hoje a mesma mágica? Figuras, artesanalmente construídas, com o madeiro sagrado das idades puerícias. E aqueles carrinhos nos levavam para qualquer lugar, mesmo que estivessem fincados no eixo da resignação.
A minha saudade é, também, do aviãozinho, que mesmo feito de zinco, e necessitado de luzes, nos conduziam para fora da órbita espacial, como um corpo celeste a afiançar que nem o céu era o limite. Zummm; zummm; aviãozinho... O quadro de nostalgia se completa com a roda-gigante, que nos fazia enxergar o telhado das casas; e isso já bastava para entrever o futuro. Antes de entrar na igreja de nossa senhora da Guia, parei para ver a banda tocar... De 14 a 24, de todos os setembros, devotos das paróquias da região acorrem as suas rezas para a igreja matriz.
A beata sai de casa atrás do fervor da oração em meio aos bancos de azar. É quando o religioso e o profano convergem para um mesmo ambiente com suas liturgias e jogatinas espalhadas pelo corredor desmedido. O pavilhão é o coração da festa. Famílias se assentam para participar dos jogos comunitários, após as missas, que acontecem todas as noites na catedral; e, em cada uma dessas novenas, a homenagem à comunidade, na forma de eucaristia.
A festa de setembro é também uma renovação espiritual. Compatrícios circulam na folhinha do calendário, um momento da vida deles. E mesmo longe, retornam ansiosos para os amigos e parentes; e fazem disso uma homilia. Dissera-me alguém que a melhor viagem é aquela que fazemos de volta pra casa. Ah! Festa de setembro! Felicidade que é circular: uma retreta de tudo que já foi dito. Quem sabe, feito este novo brinquedo que agora vejo a embalar o beijo adolescente dos filhos de minha geração.
Já estou quase chegando do outro lado... E a minha festa de setembro, que já era um retrato esmaecido, vai ficando ainda mais no passado. No entanto, o que seria da vida se não fosse o renovamento. Grata festa de setembro pelos instantes de candura; pela reminiscência eterna de meus dias... E eu prossigo a minha andança sem coragem de olhar para trás.
Professor e jornalista

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