Inácio Andrade Torres
A
preferência sexual humana é um assunto ainda muito tabuizado e pouco
discutido. Portanto, escrever sobre o mesmo, requer a narração de alguns
fatos históricos. É o que faremos, na tentativa de entendermos como um
problema social, vinculado ao indivíduo, à família e à sociedade. Uma
questão composta de muitos conceitos e definições equivocadas e
preconceituosas. E que, como problema social, a sua relevância tem sido
subestimada e até desviada no campo da saúde e da educação.
Políticos e mídia, como poucas exceções, tratam-no da forma que
melhor lhes convém, algumas vezes até em tom de sensacionalismo e de
ironia.Tomemos como exemplo a homossexualidade que, embora seja uma orientação
sexual presente em 10% da população do mundo, ainda enfrenta grandes
desafios e violências diversificadas.
Na
Paraíba, desde agosto de 2012, o próprio governador e a primeira dama
engajaram-se no enfrentamento da homofobia, vestindo a camisa estampada
com os dizeres “Tire o respeito do armário”. E a campanha faz-se
necessária. Leiamos a informação de Adriano de Lavor (Radis, maio 2012).
Pesquisa do Grupo Gay da Bahia/GGB confirma a liderança do Brasil no
ranking da homofobia, concentrando 44% do total de execuções de todo o
mundo.
Segundo essa ONG, em
2012, no Brasil, foram registrados 338 assassinatos, percentualmente assim distribuídos: gays
(56%), travestis (37%) e lésbicas (5%), o que equivale a uma morte a cada
26 horas. A maioria desses crimes aconteceu em São Paulo (45 vítimas),
contudo Alagoas (com 18 vítimas) é considerado o estado mais
perigoso
para homossexuais em termos relativos, seguido da Paraíba (com 19
assassinatos).
Como
se vê, a violência contra lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais/LGBT
na Paraíba e no Brasil é uma questão notória. No mundo
também. Assim é tanto que o Alto Comissariado de Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas/ONU enviou recentemente um documento aos
Estados-membros recomendando cinco princípios:
1.proteger
indivíduos de violência homofóbica e transfóbica;
2.prevenir
tortura e tratamento cruel, desumano e degradante de pessoas lésbicas,
gays, bissexuais e transexuais; 3.descriminalizar a homossexualidade;
4. proibir a discriminação baseada em orientação sexual e identidade de
gênero e 5.respeitar as liberdades de expressão,
de associação e de reunião pacifica.
Na
contramão dessa vanguarda, alguns Deputados federais ainda insistem em
discutir um projeto ultrapassado que autoriza o tratamento psicológico
ou a terapia para mudar a orientação sexual de gays. Os defensores desse
projeto propõem a suspensão da resolução do Conselho Federal de
Psicologia, que proíbe a participação de profissionais da área de
psicoterapia para alterar a orientação sexual e de atribuir caráter
patológico a homossexualidade.

Explicação:
a
preferência é algo feito automaticamente pelo cérebro humano independentemente
do que o individuo pensa. Já a opção pode ser traduzida
como quilo que você pode fazer com sua preferência, por exemplo, assumir
publicamente ou esconder.
“Queremos
direitos, não privilégios” reclama o deputado federal Jean Wyllys. Por
sua vez dita Rogério Rocha, coordenador do programa Radis, “Para a
construção do SUS, existir uma política específica e experiências de
atenção voltadas para lésbicas, gays, bissexuais e travestis
e transexuais significa ir além do acesso para todos (universalização).
É experimentar acolher de forma diferente e adequada
os diferentes (equidade) e aprender como cuidar, de fato, levando
em conta o contexto e as singularidades de cada grupo e de cada
indivíduo (integralidade). O que parece particular, então, estabelece
precedentes positivos para todos. Um colorido sopro de mudança
e conquista para a coletividade”.
No
campo da neurociência, explica a pesquisadora Suzana Houzel. A preferência
sexual associa-se a maneira como o hipotálamo – centro de controle sobre
atividades importantes do organismo, tais como sono, metabolismo da
água, temperatura corporal, etc. – responde a feromônios, substâncias
pouco voláteis produzidas pelo corpo, mas que ainda assim entram nariz
adentro e surtem efeitos sobre o hipotálamo. Há poucos anos, informa
essa pesquisadora, um estudo realizado na Suécia comprovou que o
hipotálamo de cada pessoa é preferencialmente sensível a um de dois
tipos de feromônios: ou o feminino, chamado de EST ou o masculino,
denominado de AND. Esse estudo concluiu que o padrão de resposta do
hipotálamo concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua
preferência sexual e, com base nesse fundamento, impõe essa preferência.
Assim, são sexualmente excitáveis por mulheres aqueles
proprietários de hipotálamo que responde a o EST, feromônio feminino, e
não ao AND; são excitáveis por homens, aqueles, cujo hipotálamo responde
ao AND e não ao EST.
Encerro
com esse argumento da neurocientista Suzana Houzel, que contem a
essência do tema apreciado. “Revelado quando o cérebro adolescente, sensibilizado
pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle expressa o caminho
que tomou ainda na gestação, a preferência sexual não se escolhe:
descobre-se. Por isso, ela é tão correta quanto a cor da sua pele.
Tentar mudar a preferência sexual é como insistir que uma pessoa troque
a cor da pele, se torne mais baixa ou tenha olhos de outra cor”. Algo
que não é justo, tampouco saudável.
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