José Nunes - Diácono e jornalista
Em meado do século passado, na cidade de Natal, Rio Grande
do Norte, o bispo auxiliar Dom Eugênio Sales, antecipando-se ao Concílio
Vaticano II que trouxe nova luz para a Igreja, colocou mulheres como gestoras
de paróquias, num gesto até certo ponto ousado na época. Igualmente abriu
espaços onde pudessem expressar sua capacidade de praticar atitudes e
ornamentar a vida comunitária durante o embrião do que seria a Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB).
Hoje, quando o Papa Francisco sinaliza de que as portas da
Igreja serão escancaradas, visto que João XXIII abriu as janelas, porque não
transferir para as mulheres a gestão administrativa e financeira de Paróquias,
para que os presbíteros e diáconos reservem mais tempo ao pastoreio e dedicação
à escuta dos pobres e dos necessitados de orientação espiritual.
Se as mulheres conquistaram os mais elevados postos da
administração pública e privada, na Paraíba estão ocupando órgãos de elevado
prestigio na sociedade, como a UFPB e o Tribunal de Justiça, sem contar a
presença em outros setores, porque não também chegar às paróquias o jeito
feminino de conduzir as coisas.
Se em casa a mulher gerencia com sabedoria o orçamento
doméstico muitas vezes reduzido, porque não puxar essa experiência para dentro
da Igreja. Ganhariam todos.
Nos Atos dos Apóstolos consta que aos diáconos era reservado
cuidar, entre outras diaconias, da administração dos bens da Igreja, sem causar
perda aos gestos caritativos e de acolhida das pessoas idosas, excluídos da
sociedade. Para esse serviço foram escolhidos e levados a serem “os ouvidos e a
alma do bispo” (Didascalia Apostolorum), de modo que os epíscopos tivessem mais
tempo para destinado ao anúncio das coisas boas que Jesus tinha realizado.
Por volta do terceiro século, com a instituição dos
presbíteros, os serviços do diácono foram gradativamente sendo assumidos por
estes novos ministros ordenados. O grau ministerial do diácono ficou apenas
“transitório” para quem fosse ordenado padre.
O Concílio Vaticano II restaurou o ministério destinado aos
diáconos, que exercem em harmonia como o corpo presbiteral, mas cinco décadas
depois estes ainda não ocupam na plenitude os espaços a eles destinados por
decisão dos Apóstolos e reafirmados pelos epíscopos durante os primeiros
séculos. Como nas paróquias a carência de acompanhar pastorais, movimentos e
grupos de jovens, e estar ao lado dos necessitados, numa população cada vez
mais carente de mão amiga, nada mais salutar a condução da administração de
paróquias pelas mulheres, deixando presbíteros e diáconos livres para outras
atividades, cada um com os carismas específicos de seu ministério.
Os primeiros cristãos a contemplar Jesus ressuscitado foram
mulheres. As mulheres aparecem no primeiro plano do projeto anunciado por
Jesus. Recorde-se o fervor com que Jesus incitou as mulheres a anunciar a Boa
Nova, quando encontraram o túmulo vazio. Assim, hoje, com as portas que da
Igreja estão se abrindo, são para estas que as mãos devem ser estendidas.
Mulheres devem administrar a Igreja? Acho que sim.
Artigo publicado no Jornal A União em 05/04/2013.
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